"If I ever allow genuine compassion to be overtaken by personal ambition, I will have sold my soul" - James Nachtwey

28 fevereiro 2006

A Verdade Nua e Crua

Paulo F.Silva, editor do Jornal de Notícias, em entrevista ao Notícias Lusófonas, diz, a propósito dos cursos de jornalismo, e do desemprego para que são "atirados" muitos dos que saem de lá:
"Estou convencido que, de facto, as universidades estão a fabricar licenciados para o desemprego, porque não há mercado de trabalho, neste sector, que consiga absorver tanta gente, é impossível. E não consigo entender como os sucessivos governos não querem ver esta dura realidade. Qualquer jovem que entra num curso de jornalismo ou de comunicação, seja qual for a designação, não percebe o engodo mercantil, e aspira, com inteira justiça, a ser jornalista. Mas não há redacções para todos eles, nem uma pequena parte. E os que conseguem acabam subjugados ao poder vigente, porque foi esse mesmo poder que, curiosamente, lhes permitiu chegar à tão ambicionada profissão. De qualquer modo, o acesso à profissão não é feito pela via da formação académica, o trajecto é outro, depende de quem manda, e as regras são tão opacas e arbitrárias que nem consigo percebê-las para as explicar."

Ainda os Estágios

O protocolo dos estágios curriculares está em vigor desde Junho de 2005, e foi subscrito pelo Sindicato dos Jornalistas, a Confederação de Meios, e a Inspecção Geral do Trabalho.
Era bom que todas estas regras fossem cumpridas, lá isso era...

A Não Perder

"Estágios no Jornalismo" é o próximo tema do Clube de Jornalistas, transmitido amanhã, às 23.30, e repetido na quinta-feira às 15.00, na RTP2.
Um programa a não perder, especialmente para os futuros jornalistas.

25 fevereiro 2006

Os Culpados de Sempre

Está em análise uma proposta de alteração ao Código Penal, que poderá punir os jornalistas caso se presuma que as suas investigações possam pôr em causa uma investigação criminal.
É a velha questão do Segredo de Justiça. E, quanto a mim, a velha solução hipócrita, que é punir os jornalistas. E hipócrita porquê? Porque se actua sempre sobre os mesmos, ou seja, aqueles que divulgam a informação (que é o seu trabalho), e se esquecem aqueles que passam a informação para os jornalistas. Sim, porque os jornalistas não têm acesso aos processos por "obra e graça do Espírito Santo"! Alguém tem de lhes dar acesso a ela, certo?
Pois é, mas depois há uma coisa que se chama deontologia, e que não permite aos jornalistas divulgar as suas fontes de informação. Resultado: ficam "entre a espada e a parede".
Ouve-se falar de medidas mais punitivas para as violações de segredo de justiça, mas nunca se anunciam medidas para assegurar uma melhor preservação desse segredo! Afinal, se há tantas fugas, é porque se calhar algo está a funcionar mal... Mas não, a culpa é dos jornalistas, que têm a mania de "meter o nariz" onde não devem...

Estão Mesmo a Falar a Sério?...

23 fevereiro 2006

Liberte o Jornalista Que Está Dentro de Si (Não Precisa de Curso)

É uma questão antiga, mas precisamente por se manter inalterada, penso que vale a pena voltar a ela.
Falo do acesso a profissão de jornalista. E do facto de não ser preciso ter formação na área, para se aceder à profissão. Por outras palavras: qualquer um pode ser jornalista!
Sobre isto, a lei diz, no Estatuto do Jornalista, no Artigo 5º, que regula o acesso à profissão:
"1- A profissão de jornalista inicia-se com um estágio obrigatório, a concluir com aproveitamento, com a duração de 24 meses, sendo reduzido a 18 meses em caso de habilitação com curso superior, ou a 12 meses em caso de licenciatura na área da comunicação social ou de habilitação com curso equivalente, reconhecido pela Comissão da Carteira Profissional de Jornalista.
2- O regime de estágio, incluindo o acompanhamento do estagiário e a respectiva avaliação, será regulado por portaria comjunta dos membros do Governo responsáveis pelas áreas do emprego e da comunicação social."
Já no artigo 2º pode ler-se que "podem ser jornalistas os cidadãos maiores de 18 anos em pleno gozo dos seus direitos civis."
Ou seja, na prática, quem está a investir num curso da área do jornalismo, quando chegar ao momento de aceder à profissão, não só terá que competir com outras pessoas da sua área (o que já é um número considerável), mas também com pessoas de outras áreas que podem nada ter a ver com o jornalismo.
Sinceramente, nunca consegui perceber esta "universalidade" do acesso à profissão de jornalista. Eu, com um curso na área das Ciências da Comunicação, não posso desempenhar funções de médica, ou de economista, ou de engenheira, por exemplo! Então porque é que pessoas de outras áreas podem ser jornalistas?
Confesso que não entendo porque se mantém esta lei...


21 fevereiro 2006

É Assim Tão Difícil?...

Será assim tão difícil para a maior parte dos jornalistas, meterem na cabeça que a presença de álcool no sangue se pronuncia "alcoolemia" e não "alcoolémia"?
É só um acento... nem custa muito...

18 fevereiro 2006

Vale a Pena Ler...

... a entrevista dada pelo jornalista Carlos Narciso ao Notícias Lusófonas.
Fica aqui o link.

16 fevereiro 2006

Haveria necessidade?...

Será que havia necesidade de pôr na capa imagens como estas, relativas às torturas no Iraque?...


13 fevereiro 2006

Os Erros Que Se Destacam no "Destak"

Estes são apenas dois dos erros que se podem encontrar na edição de hoje do gratuito Destak:


Neste caso, o jornal propõe-se contribuir para melhorar os conhecimentos de língua portuguesa dos leitores. Iniciativa de louvar. Só é pena que, quando pretendem indicar qual a forma correcta de escrever a palavra, a acabem por escrever com o mesmo erro!

Neste outro caso, simplesmente trocou-se um 'g' por um 'b' no título de uma notícia sobre o líder espiritual dos muçulmanos ismaelitas. Erro de distracção, com certeza, mas que se podia evitar.

Alguém me dizia hoje a propósito disto: "Como é gratuito, não podemos reclamar". Pois eu digo que não só podemos, como devemos! Não é por um jornal ser gratuito que não tem deveres para com os leitores! Além de que não nos podemos esquecer de que é precisamente o número de leitores que contribui para aumentar as receitas publicitárias. Portanto, de certa forma, estamos a pagar o jornal. "O Destak é o gratuito com maior número de leitores", publicita o jornal, com grande pompa e circunstância. Pena que isso não seja indicador de qualidade...
Por duas vezes exerci o meu direito como leitora de reclamar por erros que encontrei no jornal, enviando um e-mail. Da primeira vez, recebi de volta um simpático e-mail, a agradecer o reparo, que, segundo o Destak, se devia a um erro da fonte (o que não era desculpa). Da segunda vez, já devem ter achado que era demais, e não se dignaram a responder. É pena, porque só lhes tinha ficado bem...
Desta vez não vou incomodar mais os senhores do Destak. Mas deixo aqui, o meu direito, enquanto leitora, de não gostar de ver erros no jornal que estou a ler. E acho que é legítimo.

11 fevereiro 2006

A Ida de Felgueiras a Fátima

Será que alguém me explica porque é que a ida de Fátima Felgueiras ao santuário de Fátima, com mais cerca de 3000 pessoas de Felgueiras, alegadamente "para agradecer a vitória da autarca nas eleições" é notícia nos telejornais?
Que critério noticioso foi utilizado?
Para além de ser uma especulação afirmar que Fátima Felgueiras e as outras pessoas foram ali para agradecer seja o que for, mesmo que seja verdade, o que é que isso interessa?!
A notícia havia de ter alguma intenção... só não se percebeu qual, e assim tudo o que ficou foi uma notícia ridícula de telejornal de fim-de-semana.
Quão baixo desceram as nossas televisões, se agora até idas dos autarcas a locais religiosos são notícia?... É preocupante.

World Press Photo

Porque o jornalismo e o mundo também são feito de imagens...
Fica aqui o link para os vencedores do World Press Photo deste ano.
Fotografias que vale a pena ver.

10 fevereiro 2006

Os "Mupis"

Na edição de ontem do Público, no caderno Local, da zona de Lisboa, vem logo na primeira página em grande destaque uma notícia sobre uns cartazes do tipo mupi, que teriam sido colocados na rua Garrett, e que teriam gerado polémica.
Pode ser ignorância minha, mas não sei o que são esses tais de mupi. Nem tenho obrigação de saber. E atrevo-me a dizer que muita gente não saberá. E não tem obrigação de saber. Quem tem obrigação de se fazer entender aos seus leitores é o jornalista. E este foi mais um caso em que tal não foi feito.
Ao longo de toda a notícia (que tinha uma dimensão considerável), o jornalista não se deu ao trabalho de explicar o que eram afinal os mupis, termo que é repetido exaustivamente.
Ora, como pode o leitor perceber claramente o que está em causa, se não sabe do que o jornalista está a falar? Acho que há aqui uma falha de comunicação bastante grave!
Mesmo que fosse difícil explicar literalmente, a foto que acompanha a notícia podia representar um dos ditos mupis. Mas não.
Tive de recorrer à Internet para ficar a saber afinal que tipo de cartazes estavam em causa, e aí então, ficar esclarecida.
Por este andar, qualquer dia para se entender os media, vamos ter que começar a andar com um dicionário atrás... E de preferência um que inclua também expressões estrangeiras, jargões, e outras coisas que os jornalistas tanto adoram utilizar.
Já agora, para quem for ignorante como eu, parece que isto é que é um mupi:

07 fevereiro 2006

"Agitação na Lusa" (Actualização)

O Público noticia hoje que o Conselho de Redacção da Lusa confirmou que houve interferência do governo no caso das notícias sobre a instalação de Banda Larga em todas as escolas do país.
A história continua confusa, com versões contraditórias, e a bancada parlamentar do PSD já requereu à Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias uma audição urgente da directora de informação da Lusa, Deolinda Almeida.
Vamos ver no que isto vai dar... Mas a conclusão a que chegou o Conselho de Redacção da Lusa é, sem dúvida, preocupante.

06 fevereiro 2006

Manuela e os "Atrasados Mentais"

A revista Correio Domingo, do Correio da Manhã, trazia este domingo uma grande entrevista com Manuela Moura Guedes.
Entre outras afirmações interessantes, Manuela Moura Guedes diz que a maioria dos seus críticos "são uns atrasados mentais e não sabem sobre o que estão a escrever". Manuela acha portanto que quem se atreve a criticá-la só pode ser "atrasado mental". Junto-me então também eu a esse grupo: nunca gostei do estilo de Manuela Moura Guedes, acho que o que ela fazia não só não era jornalismo como era uma ofensa ao jornalismo, e que a decisão do espanhóis de a tirarem da frente do ecrã só pecou por tardar tanto.
Moura Guedes diz na entrevista que nunca deu a sua opinião durante os noticiários, "simplesmente reagia aos acontecimentos, e qualquer comentário servia apenas para chamar a atenção de que aquela notícia podia ter outra leitura ou interpretação". Pergunto: e essa não era a função da notícia? Mostrar os vários ângulos da questão? Não é ao pivot que compete estar a fazer comentários! Se queria comentar, muito bem, mas deveria escolher outra profissão, na qual fosse paga realmente para isso.
Quando questionada sobre o caso da abertura do telejornal com o célebre caso do pontapé do Marco do Big Brother, Manuela responde da seguinte forma: "Quando há histórias que mexem com o país como o pontapé do Marco do Big Brother, isso é ou não é notícia? Talvez não tivesse direito a honras de abertura...". Histórias que mexem com o país?! Qual crise económica, quais notícias sobre o governo? O que o povo quer é o pontapé do Marco! E o mais triste é que isto é verdade para grande parte das pessoas... e em muito graças à "qualidade" dos programas que a TVI oferece...
Manuela Moura Guedes diz ainda que não consegue ver o telejornal da RTP, porque "não tem alma". Já a SIC, considera "menos cinzenta".
Quando lhe perguntam com quem embirra mais a apresentar as notícias, não hesita: O "Zé Beto (José Alberto Carvalho). Porque "ele toma-se de inteligente, finge-se de inteligente e não é nada. É apenas uma voz". Ao que acrescenta: "Não sei sequer se ele tem ideias. E depois aquele ar sério e o vozeirão...". Pois é, Manuela não sabe se José Alberto Carvalho tem ideias. Talvez porque este, ao contrário dela, não faz questão de as exprimir quando está a apresentar o telejornal. Mas o que se há-de fazer? A televisão está cheia destes "atrasados mentais" sem ideias...
Fica aqui o link para a entrevista, para quem estiver interessado em ler mais.

05 fevereiro 2006

A Relatividade dos Valores-Notícia

Alguns correspondentes estrangeiros em Portugal consideraram que a cobertura da visita de Bill Gates ao nosso país foi exagerada.
Penso que há aqui duas componentes a considerar: em primeiro lugar, o que é que essa visita implicava, isto é, o senhor Bill Gates não veio apenas de férias, a sua vinda cá relacionou-se com a assinatura de um conjunto de protocolos de importância(pelo menos assim o esperamos) para o futuro do país. Nesse sentido, acho que os media tinham mesmo de dar cobertura ao assunto, não podiam fingir que nada se passava. Agora, outra coisa é a forma como se dão as notícias... com um tom de "Vem aí o salvador ao nosso país de pobrezinhos!". Acho que em alguns casos se apostou neste tom, mas noutros a cobertura até me pareceu bem feita.
Mas também acho que é preciso relativizar as coisas, isto é: para já, os correspondentes não estão a trabalhar no seu país, e portanto a importância desta visita obviamente não era igual para eles. E, por outro lado, parece-me que não é a mesma coisa o Bil Gates ir a um país como França, ou vir a Portugal... Não se compara a importância que pode ter para um e para outro país, por razões económicas que são conhecidas.
Concluindo: trata-se de "dor de cotovelo" de alguns correspondentes estrangeiros, como o sugere Francisco Rui Cádima? Não sei, mas o que me parece é que não se pode analisar uma cobertura jornalística sem ter em conta a importância do próprio acontecimento, e também outros factores. E se calhar é fácil olharmos para o trabalho que é feito num país que não é o nosso... Mas é preciso também compreender as características específicas desse país (economicamente, socialmente, etc.)...

04 fevereiro 2006

"Agitação na Lusa"

Ao que parece, as notícias relativas à instalação de Banda Larga em todas as escolas do país, terão causado grande agitação na Lusa.
Uma história confusa, que devia ser devidamente esclarecida...

As Televisões do País do Euromilhões

Em semana de grande Jackpot do "Euromilhões", multiplicaram-se nos telejornais as tradicionais reportagens e directos dos locais de apostas, com as repetidas perguntas: "Então, quanto vai apostar?", "O que faria se ganhasse?", com as quais que se obtêm, geralmente, as mesmas respostas.
Mas, como se ainda não bastasse esta adesão em massa das televisões à "febre do Euromilhões", hoje, que já se sabe que houve um totalista português do primeiro prémio, assiste-se a algo ainda mais inacreditável: directos do local onde o vencedor registou a aposta!
Ficamos então a saber que se trata de uma papelaria num centro comercial de Odivelas. No meio de um magote, o jornalista cumpre ali um serviço de utilidade pública fundamental, e faz as perguntas da praxe à dona da loja; se já "deu" outros prémios (como se fosse ela que dá os prémios!), se sabia em que dia tinha sido registada a aposta (como poderia saber?!), e como ia garantir o anonimato do apostador, o que, acrescentou a jornalista, ia ser quase impossível com a quantidade de gente que ali estava.
Serei eu a única a achar estes directos completamente idiotas e vazios?... É que não acrescentam nada a não ser mostrar um conjunto de pessoas que não têm nada mais interessante para fazer do que concentrar-se na dita papelaria à espera que o totalista apareça. Mas que essas pessoas façam isso, é lá com elas, agora transformar isso em notícia, em tema de directo, em verdadeiro caso do dia?!
Será que um jornalista não se sente ridículo a desempenhar um papel tão triste?... Pelo menos parece...

03 fevereiro 2006

Jornalistas Com Alguma Experiência (Mas Bem Parecidos) Procuram-se

Mais uma curiosidade dos anúncios na área da comunicação social.
Achei especial piada ao facto de pedirem para enviar "curriculum com fotografia".
Afinal é um anúncio para funções de jornalista ou de modelo?...
Enfim, só me pergunto qual a importância da fotografia para a admissão de um jornalista... Será novo critério de selecção?... Fica a dúvida.

Milagre! O Milagre Apareceu!

E eis que na edição de hoje do Correio da Manhã, surge precisamente o que faltava ontem: o dito milagre!
Será que o jornal está a aderir ao sistema de publicar as notícias em folhetins, do estilo: "não percam o próximo episódio, porque nós também não"? É o que parece...
Já agora, de notar também o tom parcial em que é escrita a notícia, dando o facto como adquirido, usando expressões como "Irmã Lúcia curou menina de 4 anos". Não se devia em vez disso escrever "(...)terá curado uma menina de 4 anos"?... Mas no último parágrafo fala-se de uma "eventual graça divina". Ah, afinal é eventual! É que lendo o título quase que não restariam dúvidas...


02 fevereiro 2006

O Milagre das Notícias Ocas

O Correio da Manhã publica hoje, sob o título "Cura sensacional", uma notícia sobre um milagre que poderá garantir a beatificação da irmã Lúcia. Falta apenas um pormenor... qual é o milagre??
O jornal não se coíbe de colocar a notícia num lugar de destaque (nas primeiras páginas), mas o leitor fica sem saber qual é o referido milagre. Então onde está a notícia? Seria notícia se já se soubesse qual o milagre, ou se as respectivas autoridades o tivessem considerado verídico... Mas não, o que se refere é apenas uma suposta "documentação com o relato da cura milagrosa".
Ainda se a notícia consistisse apenas numa breve referência, ocupando um espaço reduzido no jornal, podia entender-se... Mas ocupar duas páginas no início do jornal??
É defraudar o leitor sem qualquer peso na consciência, e acho que é jornalismo sem qualidade.