"If I ever allow genuine compassion to be overtaken by personal ambition, I will have sold my soul" - James Nachtwey

31 outubro 2005

Há reportagens fascinantes...

Na edição de hoje do jornal Destak, numa secção dedicada a publicidade(?) à TV Guia, vinha o seguinte excerto de uma reportagem da edição desta semana da revista:

Judite de Sousa
Querida Professora
Duas vezes por semana, Judite de Sousa dá aulas no Instituto Superior de Comunicação Empresarial, no Príncipe Real, em Lisboa. Assistimos a uma aula da jornalista da RTP. Só a dificuldade em estacionar o carro no Príncipe Real fez com que Judite de Sousa não chegasse mais cedo ao Instituto Superior de Comunicação Empresarial (ISCEM), onde dá aulas há 13 anos. «Bom dia, já consegui estacionar. Estava a sair um carro e aproveitei... Isto é complicado...», cumprimentou-nos a jornalista da RTP.

Em rodapé, está escrito: "Leia estas peças na íntegra na edição de hoje da TV Guia!"
Depois de uma amostra destas, como podemos resistir a tal apelo?... A quem é que não interessa saber os problemas que Judite de Sousa tem para estacionar o seu carro? E que chegou atrasada à sua aula?... Já a aula propriamente dita, provavelmente foi posta em segundo plano, afinal que interesse tinha isso comparado com os outros dados fascinantes?...


24 outubro 2005

O 'W' do Wilma

Nos últimos dias têm-se ouvido nos meios de comunicação social, várias notícias sobre o já famoso furacão "Wilma".
O nome do furacão é pronunciado por todos, como "Vilma", lendo o som 'v' . Confesso que isto me tem vindo a intrigar... Porquê pronunciar "Vilma" e não "Uilma"? Acaso o nome é de origem alemã, ou outro idioma em que essa letra se pronuncie como 'v'?... Ou será um aportuguesamento?... Ou será mais um daqueles fenómenos do chamado jornalismo de "pé de microfone", em que um comete uma asneira pela primeira vez, e os outros todos copiam?...
Pode ser um pequenino pormenor, mas porque não, já agora, pronunciar o nome do furacão correctamente?...

22 outubro 2005

Generalizações abusivas

Há momentos ouvi um pivot da SIC Notícias apresentar uma feira de livros sobre o Islão, que está a decorrer na Mesquita de Lisboa, rematando a notícia da seguinte forma: "Uma feira que pretende acabar com os preconceitos dos portugueses."
Dos portugueses? Ou de alguns portugueses? Será que somos um país assim tão preconceituoso, neste caso em relação ao Islão? Eu diria, na minha humilde opinião, que não somos um país assim tão preconceituoso para merecer tal frase. Provavelmente temos, como em todos os outros países, pessoas preconceituosas e pessoas não preconceituosas. Portanto, a referida feira poderia acabar com os preconceitos de alguns dos portugueses, aqueles que efectivamente forem preconceituosos.
Dito dessa forma, não só foi uma generalização abusiva, como também pode ser visto como um insulto ao telespectador, que se vê de repente catalogado como "preconceituoso". A não ser, é claro, que não seja português...
São coisas destas que fazem pensar em que medida os media não contribuem também, em certa medida, para que as pessoas tenham ideias erradas sobre o próprio país... Pois se nos dizem que somos preconceituosos, quem somos nós para duvidar?...

18 outubro 2005

Convidados Indesejados

Há situações tão insólitas, que nem parecem reais... Deparei-me com uma dessas situações ontem, ao ver o noticiário da SIC Notícias.
Já começam a ser vulgares as agressões (físicas e verbais) a jornalistas. Mas ontem a Ministra da Educação decidiu introduzir uma variante no desrespeito pelos profissionais da Comunicação Social. Convidou os jornalistas para a apresentação de um novo programa de Matemática numa escola. Os jornalistas responderam ao convite, deslocando-se à mesma. Mas, surpresa das surpresas, uma vez lá, foram impedidos de entrar!
Perante esta situação, não só os jornalistas ficaram obviamente indignados, mas também algumas professoras que se encontravam no local, e que se retiraram, por achar incompreensível que a Comunicação Social não pudesse ter acesso à apresentação do referido programa.
Após momentos de confusão, aparece na reportagem um senhor, presidente do conselho executivo da escola, a dizer que afinal os jornalistas já podiam entrar. Confrontado com as questões dos jornalistas, em relação ao impedimento de há momentos atrás, este senhor disse desconhecer as razões, e afirmou terem sido "ordens da ministra".
Restava então perguntar à ministra o porquê de tais ordens. E aqui aparece o mais insólito da questão: a ministra afirmou desconhecer a situação, e não sabia porque tinha sido negada a entrada aos jornalistas! Fica então a questão: quem terá sido o autor deste "desconvite" da Comunicação Social? O Pai Natal?...

05 outubro 2005

Mais uma: "inversão do ónus da prova"

Vamos lá a mais uma liçãozita de jornalismo: a coisa mais importante para um jornalista é ser entendido pelo seu público, e entender aquilo que está a dizer.
E agora vou aqui relatar mais um caso em que definitivamente foi ignorada essa regra: O Presidente da República, no seu habitual discurso do 5 de Outubro, falou na necessidade de "inversão do ónus da prova". E os jornalistas mandam-nos a notícia assim, sem mais nem menos, tomem lá o vocabulário jurídico, e safem-se como puderem! Sim, como toda a gente sabe o que é o ónus da prova, certamente que também sabem o que é a inversão do ónus da prova!...
E o mais preocupante no meio disto tudo é pensar: será que os próprios jornalistas sabem aquilo que estão a dizer? Como podem exigir do público que entenda, se muitas vezes eles próprios não entendem?!
Haja bom senso, deixem de se armar em médicos e advogados, e sejam jornalistas!

02 outubro 2005

Paramiloidose?!

Uma das regras fundamentais do jornalismo é: o primeiro parágrafo (ou lead) é o mais importante, é aí que deve estar a informação fundamental da notícia. Outra regra, é que as palavras utilizadas devem ser conhecidas, passíveis de ser compreensíveis pela maior parte do público.
Básico, não é? Então como é possível que jornalistas, já com alguns anos de profissão, consigam, numa só reportagem, quebrar estas duas pequeninas regras?! Acabo de ver, no Telejornal da RTP, uma notícia que é anunciada como uma contestação em relação aos medicamentos, por parte da Fundação Nacional de Paramiloidose. Ora, admito que seja ignorância minha, mas eu NÃO sabia o que era a tal Paramiloidose, e, atrevo-me a dizer, provavelmente há muito mais gente que não sabe. Depois de se ouvir tal palavrão, ficamos na esperança que a jornalista comece a reportagem por explicar o que é a tal de Paramiloidose... Mas não, mergulha logo para a apresentação do problema, os testemunhos das pessoas que fazem parte da fundação. Tudo muito bem, só faltava um pormenor: saber em que consiste a doença!!
Mas ainda mantive a esperança durante uns minutos, podia ser que a explicação aparecesse pelo meio. Expectativas goradas! A reportagem termina, e nada, zero, nicles.
Pronto, tive que recorrer à Internet para descobrir afinal o que é a tal Paramiloidose. Qual não é o meu espanto quando verifico que é a vulgarmente chamada "doença dos pezinhos"! Pergunto: não seria muito mais simples referir a doença por esse nome?... Ou pelo menos explicar que era o equivalente?...
E o pior é que isto não é caso único. Não sei se é um desejo incontrolável que os jornalistas têm de mostrar que sabem palavras difícieis, mas constantemente são utilizados termos que quase de certeza que a maior parte das pessoas não conhece! E para quem é a informação? Não é para o público? Como pode uma pessoa perceber um problema que é apresentado numa reportagem, se não sabe a que se refere? O jornalista não é um técnico, pelo contrário, tem a obrigação de traduzir os termos técnicos!
Mais uma vez: admito que a ignorância seja minha, mas confesso, não sabia o que era a Paramiloidose.