"If I ever allow genuine compassion to be overtaken by personal ambition, I will have sold my soul" - James Nachtwey

30 dezembro 2005

Bom Ano Novo!

Desejo um bom ano a todos os leitores do blog!
Que 2006 traga mais e melhor jornalismo a este país encantado das notícias.

28 dezembro 2005

Provedores do leitor

De há uns tempos para cá parece estar em "cima da mesa" a hipótese da criação de um provedor dos telespectadores na televisão pública, à semelhança da figura do provedor dos leitores que existe nos jornais.
Mas, se formos ver, mesmo nos jornais ele praticamente não existe. Para ser mais precisa, de entre os três principais jornais diários (Correio da Manhã, Diário de Notícias, e Público), apenas o Diário de Notícias tem a figura do provedor, função desempenhada por José Carlos Abrantes.
No Público, já existiu em tempos um Provedor. Mas neste momento não há.
No Correio da Manhã nunca existiu.
E fará falta um provedor dos leitores? Sou da opinião que sim. Demonstra vontade por parte de um jornal de manter o "diálogo" com os leitores, capacidade de se auto-criticar, desejo de contribuir para fazer melhor jornalismo, e sobretudo desejo de ir adaptando o jornal ao seu público, porque afinal é para ele que este é feito.
Em última análise, parece-me que tudo o que possa contribuir para fazer um melhor jornalismo é positivo. E a figura do provedor pode, a meu ver, contribuir para isso. Só é pena que apenas um dos principais jornais diários mantenha essa iniciativa...

20 dezembro 2005

Doutores e Jornalistas

Não resisto a registar aqui uma tendência que tenho vindo a verificar: a de alguns jornalistas serem tratados por "doutores" pelos seus interlocutores.
Nomeadamente, reparo nisso quase todos os dias, ao ouvir o programa "Antena Aberta" da Antena 1, no qual a moderadora, Eduarda Maio, é abundantemente tratada por "doutora" pelos ouvintes. Outro caso, julgo que mais conhecido, é o de Judite de Sousa, várias vezes referida da mesma forma. Não sei se existirão ainda outros casos...
Não estando aqui em causa a legitimidade de tal título, não deixo de achar curiosa esta espécie de "elevação" de alguns jornalistas em relação a outros. Dá que pensar: porque será? É que jornalistas "doutores" há outros, e a tendência é para haver cada vez mais... No entanto, poucos têm a "honra" de serem tratados dessa forma... Já imaginaram um político ser interpelado na rua por um repórter, e responder-lhe: "ó doutor...". Eu não imagino! E no entanto, esse jornalista repórter pode ser tão doutor como os outros...
E já agora, enquanto espectadora ou ouvinte, confesso que me causa certo incómodo ouvir o jornalista ser tratado desse modo. É como se o pusesse numa posição mais elevada. E o ideal é que o jornalista esteja ao mesmo nível que o seu público...

17 dezembro 2005

A Ténue Fronteira Entre o Jornalismo e a Opinião

Tem sido tema recorrente nos últimos posts, mas não posso deixar de o abordar mais uma vez, porque me deixa muitas dúvidas a forma como às vezes os resumos dos debates são feitos.
Mais uma vez refiro aqui o Correio da Manhã.
Serão títulos como "Soares dá lição a Louçã", aceitáveis do ponto de vista jornalístico? É o jornalista que decide quem deu lição a quem? É que isso implica, para além de fazer um juízo, tomar um partido.
Não se estará aqui a quebrar a ténue fronteira (que não deveria ser assim tão ténue) que separa o jornalismo da opinião?...


16 dezembro 2005

Terá Sido Falta de Imaginação?...

E eis que no fim do debate entre Francisco Louçã e Mário Soares, Ricardo Costa decide aproveitar o pouco tempo que resta para colocar a Louçã uma questão de importância vital para o país:
"Se for eleito Presidente da República vai passar a usar gravata?"
Pergunto: terá sido falta de imaginação do jornalista? Não se terá lembrado de nada melhor com que aproveitar o minuto que restava?...

Sem Comentários (Actualização)

Cerca de 12 horas depois, alguém se apercebeu do erro...
É caso para dizer: mais vale tarde do que nunca.

15 dezembro 2005

Sem Comentários

Notícia SIC: "Paulo Pedroso acusa Souto Moura de imparcialidade".
Acusação estranha... então não é suposto o Procurador geral da República ser imparcial?... Continuo a ler a notícia. Leio que afinal o que Pedroso disse foi que "existiu uma violação do dever de imparcialidade por parte da Procuradoria Geral na República no caso Casa Pia".
Ah, afinal foi isso...
Sem comentários.

10 dezembro 2005

Isto é mesmo o resumo de um debate?...

textos que me questiono se serão jornalísticos...
"Como não tinha nada a perder, Francisco Louçã procurou(...)"
"Estava dado o mote para um confronto político que iria ser marcado, como se esperava, por posições opostas."
"Com esta tirada, Cavaco Silva, que iniciara o debate com sinais de tenção bem expressos no rosto, inverteu o curso do debate"
Dá-me a sensação de estar a ler o relato de um jogo de futebol, ou um resumo de uma telenovela! Acho que é possível fazer um resumo do debate sem utilizar certo tipo de frases, que além do mais, por vezes revelam uma opinião do jornalista que não devia transparecer...

09 dezembro 2005

Debates "à americana" nas televisões portuguesas

Faço minhas as palavras de José António Lima neste texto sobre os debates televisivos para as eleições presidenciais.
E tenho de confessar que gostei mais do debate de ontem. Independentemente dos candidatos, a nível de organização televisiva, acho que correu melhor do que o primeiro. Foi menos rígido, não se sentia tanto a ditadura do tempo, e penso que José Alberto Carvalho e Judite de Sousa conseguiram criar um bom equilíbrio.
Depois há também pequenos pormenores que contam, como o cenário, que me pareceu mais agradável do que o escolhido pela SIC, e o posicionamento dos candidatos (continuavam a não estar frente a frente, mas mesmo assim estavam mais em contacto do que no debate da SIC, não dava tanto a sensação de estar cada um para seu lado). Além disso, o próprio posicionamento dos entrevistadores é importante, e também nesse sentido me pareceu que a escolha feita pela RTP foi melhor.
Mas, independentemente das escolhas feitas por cada estação televisiva, há questões que permanecem: será que este é o modelo certo a adoptar? Será que achamos que ele não resulta apenas porque não estamos habituados, é uma questão de tempo? Ou não resulta mesmo?
Parece-me que a questão essencial é: será que o que se ganha em informação compensa a falta de interesse televisivo? O público fica mais e melhor informado desta forma?

03 dezembro 2005

Jornais do Futuro

O site do Clube de Jornalistas chama hoje a atenção para um exemplo daquilo que poderá ser o jornalismo do futuro. E coloca a questão que se impõe com o avanço das tecnologias: será que no futuro os jornais (nas suas edições em papel) irão desaparecer? Será que vamos chegar ao ponto de deixar de haver jornais no seu suporte tradicional?
Confesso que tenho dificuldade em imaginar isso a acontecer, mas o futuro o dirá.
Até lá, acho que vale a pena apreciar exemplos como este do The Sacramento Bee, que nos apresenta uma forma inovadora de fazer jornalismo, e uma proposta de adaptação da actividade jornalística às novas tecnologias, aproveitando o que de melhor elas têm para oferecer.

Propaganda não é Jornalismo

Que a propaganda é uma parte interveniente nas guerras, já se sabia. E os EUA não fizeram por menos: aprovaram um programa multimilionário que se destina a pagar a jornais e jornalistas iraquianos para publicarem histórias favoráveis à ocupação americana. Nem mais nem menos. Na perspectiva destes senhores, só assim se pode apurar a verdade. A verdade deles, é claro.
Mas, como sempre, a Casa Branca nega desconhecer a situação (mesmo perante o orçamento de milhões de dólares destinados a esse fim), e diz que vai abrir uma investigação.
Porque será que tenho o pressentimento de que essa investigação nunca irá chegar a nenhuma conclusão?...

01 dezembro 2005

Os Petiscos de 'Bibi'

São pormenores destes que enriquecem o jornalismo...
"OS PETISCOS DE BIBI

Desde que foi solto na passada sexta-feira dia 25 de Novembro, Carlos Silvino tem uma nova preocupação: cozinhar as suas refeições. Depois de um primeiro dia no Tribunal de Monsanto a comer sandes, para a 115ª sessão 'Bibi' levou uma salada de atum para o almoço, confeccionada na terça-feira à noite na casa onde vive, no Bairro de Santos, em Lisboa.
Segundo apurou o CM, apesar de estar em liberdade, o ex-motorista da Casa Pia, ao contrário dos restantes arguidos, não vai almoçar fora por questões económicas e de segurança." (edição de hoje do Correio da Manhã).
Pergunto: a QUEM é que interessam estes pormenores? Pelos vistos aos jornalistas do Correio da Manhã... Não só se deram ao trabalho de ver o que é que 'Bibi' levava para o almoço, como sabem que o mesmo almoço tinha sido confeccionado em sua casa na terça-feira à noite, como, e isto é o mais genial: ainda apuraram que 'Bibi' não vai almoçar fora por razões económicas e de segurança. Chama-se a isto um trabalho de grande investigação jornalística!



30 novembro 2005

A Ideia Fixa de Judite de Sousa

Não resisto a pôr aqui um link para o site do Clube de Jornalistas, onde hoje se pode ler um texto de Ribeiro Cardoso sobre a entrevista de Judite de Sousa a Manuel Alegre, com o título "Tricas em horário nobre".
É que reparei exactamente no mesmo... mas pensei que fosse impressão minha.
Fica então aqui o link para quem estiver interessado, e quem sabe, tenha visto a entrevista, e se tenha também apercebido disto.

27 novembro 2005

Pacto com os Jornalistas

Mário Soares propôs aos jornalistas um pacto, para que não o fizessem pronunciar-se sobre determinadas questões, enquanto candidato às Presidenciais. Segundo Soares, os jornalistas podem colocar-lhe as questões que quiserem, que ele não se pronunciará.
Não deixa de ser engraçado este "pacto" de Soares... parece pôr do lado dos jornalistas a responsabilidade de determinadas afirmações que possa ter proferido. Mas é que o trabalho dos jornalistas é, precisamente, fazer perguntas. Cabe depois ao visado responder ou não.
É curiosa a utilização dos jornalistas por parte dos políticos... Quando, num determinado combate político, acham que é altura de parar de "deitar achas para a fogueira", a culpa foi dos jornalistas, porque os "obrigaram" a proferir aquelas declarações, quando eles, coitados, até não queriam...
Pois é, os "malandros" dos jornalistas!...

26 novembro 2005

A (Ir)Responsabilidade dos Media

O jornal Público dá hoje conta da deliberação da Alta Autoridade Para a Comunicação Social relativamente ao trabalho dos media no tratamento do famoso "arrastão" de Carcavelos.
Muito já foi dito e escrito sobre esse assunto, por isso não vou aqui mais "bater nessa tecla".
O que me parece ser preocupante é que o comportamento dos media nesta situação foi apenas um dos muitos sintomas da falta de sentido de responsabilidade que estes parecem ter enquanto formadores da opinião pública.
Informar é, cada vez mais, um acto de grande responsabilidade. E o que se passa hoje é que os media já não têm responsabilidade apenas na transmissão dos acontecimentos, podem agir também enquanto causadores desses mesmos acontecimentos. Podemos pensar por exemplo no papel que os media tiveram enquanto estimuladores dos distúrbios em França. Podemos questionar-nos se o facto de esses acontecimentos terem sido tão abundantemente noticiados não poderá ter tido influência nos próprios acontecimentos...
Não estou aqui a defender uma tese apocalíptica dos media (até porque espero fazer parte deles), o que defendo é mais cuidado na forma como a informação é dada, um pouco mais de consciência do importantíssimo papel dos meios de Comunicação Social.
E talvez essa formação para a responsabilidade dos jornalistas devesse começar nas próprias universidades, nos próprios cursos. Alertando para a necessidade de rigor, para a responsabilidade da profissão, para o poder que uma simples notícia pode ter... Porque ser jornalista não é só saber escrever notícias. E o que mais me preocupa é a formação de jornalistas autómatos, sem sentido crítico, e por isso incapazes de, por exemplo num acontecimento como o "arrastão", avaliarem aquilo que realmente se passou. E incapazes de pedirem desculpa quando manifestamente erraram.

19 novembro 2005

O Público Errou... Em Letras Bem Grandes

Na edição de hoje do jornal Público, na secção "Cultura", pode ler-se uma notícia com o seguinte título, em letras bem grandes: "Finlandeses Sigur Rós regressam à luz nos coliseus".
O lead dessa mesma notícia começa da seguinte forma: "Banda islandesa regressa a Portugal com Takk... (...)".
Ah, então afinal ainda são islandeses! É que por momentos pensei que tivessem mudado de nacionalidade...
Chama-se a isto um erro em letras bem grandes!
Pergunto: não houve ninguém que o detectasse? Já não digo o autor da notícia, que esse estava visivelmente confuso...
Enfim, mais uma para a secção "O Público errou"...

18 novembro 2005

Está Explicado...

Ainda a propósito dos jornais gratuitos, acabo de ler uma notícia na edição de hoje do Diário de Notícias, que de alguma forma pode ser esclarecedora em relação ao post anterior.
A notícia dá conta da realização do II Congresso Jornalístico de Portugal e Espanha, em que participaram João Marcelino, director do Correio da Manhã, José António Saraiva, director do Expresso e Francisco Pinto Barbosa, director do Destak, entre outros.
Mas foi no debate sobre "Qual a veracidade dos jornais gratuitos" que as coisas terão ficado mais animadas. Após a acusação de João Marcelino, de que os gratuitos "são suportes impressos destinados a veicular publicidade", e que apostam pouco na informação, Francisco Barbosa respondeu que "é preciso compreender que são produtos diferentes. O Destak destina-se aos não leitores e quando se fala de qualidade, isso deve ser tido em conta" (sublinhado meu).
Então quer dizer que, sendo um jornal destinado aos não leitores, como o classifica Pinto Barbosa, as exigências de qualidade são menores? Pronto, está explicado porque depois se encontram notícias como aquela de ontem, e como repetidamente o Destak mostra uma enorme falta de cuidado na verificação da informação.
O problema é que não são só os não leitores que lêem o Destak... Aliás, nem sei o que seja isso de não leitores, se uma pessoa lê um jornal que seja, já é leitora... De qualquer forma, é um leitor, e merece ser respeitado como tal. E o mínimo que o jornal pode fazer é fornecer informação exacta aos seus leitores. Agora se depois a organiza de forma mais "light", isso já é outra história... mas não tem necessariamente a ver com qualidade.
Portanto, Pinto Barbosa ao dizer isto, veio dar razão a João Marcelino. O Destak parece estar mais interessado em veicular publicidade, do que propriamente em informar. E isso é mau... mau para o jornalismo, mau para o público em geral, se tivermos em consideração que há pessoas para quem os gratuitos são a única fonte de informação.
O Destak tem vindo a promover-se com o slogan: "Para quem não gosta de ler palha". O pior é com juntamente com a "palha", deita também fora a qualidade...
Fica aqui o link para quem quiser ver a notícia completa.

17 novembro 2005

Grandes Equívocos...

Nos dois jornais gratuitos diários vinha hoje uma notícia sobre um estudo realizado por uma socióloga,sob o tema "Trajectórias Académicas e de Inserção Profissional da Universidade de Lisboa". Como o próprio nome indica, esse estudo foi apresentado na Universidade de Lisboa.
Mas ao ler a notícia, primeiro no Destak e depois no Metro, fiquei confusa... O Destak começa por dizer que "Sete em cada dez diplomados pela Universidade Nova de Lisboa entre 1999 e 2003 são mulheres e perto de metade provém de famílias com pouca escolaridade, revela um estudo daquela instituição apresentado ontem, em Lisboa." Mas a seguir a Universidade já é outra. O Destak continua: "Segundo o trabalho «Trajectórias Académicas e de Inserção Profissional da Universidade de Lisboa (...)". Então em que ficamos? Afinal é a Universidade Nova de Lisboa ou a Universidade de Lisboa? É que são universidades diferentes...
Decidi investigar o caso. Abri então outro jornal gratuito, o Metro. E lá vinha a mesma notícia, e, maravilha das maravilhas, a mesma contradição! Coincidência? Não, tinha de haver outra explicação. E a explicação devia estar na fonte. No caso da notícia do Metro, a fonte vem identificada como sendo a Lusa, o Destak nem sequer identifica, mas é óbvio que foi a mesma.
O que se passou então aqui? A Lusa fez uma confusão entre universidades, e fala de duas universidades diferentes como se fossem a mesma. E os jornais publicaram a notícia sem se aperceberem do erro, o que é duplamente (triplamente) grave...

04 novembro 2005

Traduções Simultâneas

Confesso que não percebo isto: o hábito que os jornalistas de televisão têm de, quando está a ser transmitido um discurso em directo de uma qualquer personalidade, aproveitarem as pausas para introduzir comentários, parafraseando o que a pessoa acabou de dizer, como se estivessem a fazer uma tradução.
Tenho visto isto ser feito repetidas vezes e pergunto-me qual é a utilidade... O espectador ouve aquilo que acabou de ouvir da boca da própria pessoa repetido pelo jornalista, e pensa: "Então mas julgam que eu sou parvo? Isto acabei eu de ouvir!". Torna-se profundamente irritante.
Exemplo: Manuel Alegre diz: "O Presidente da República não pode assistir passivamente à ocupação partidária dos lugares de nomeação pública". E logo a seguir o bom do jornalista faz a "tradução" dizendo algo como: Manuel Alegre a defender aqui que o Presidente da República não pode assistir passivamente à ocupação partidária dos lugares de nomeação pública.
E pior que isto é quando o jornalista parafraseia erradamente, acrescentando coisas que a pessoa não disse, e fazendo a sua própria interpretação. É que se as falsas citações já são graves, ainda mais grave é quando são feitas em directo!
Parece que os jornalistas de televisão têm pânico de estar em silêncio, sentem-se na obrigação de dizer alguma coisa. A questão é que às vezes não há mesmo nada a dizer, ou melhor, aquilo que interessa ser dito está a ser dito por outra pessoa. O discurso fala por si, não são precisas traduções. E os comentários podem ser úteis se realmente acrescentarem algo de novo, um esclarecimento, algo que seja importante para o telespectador.
Há ocasiões, em que os jornalistas, como se costuma dizer, "perdem uma boa oportunidade para estar calados". E deixar falar o acontecimento...

31 outubro 2005

Há reportagens fascinantes...

Na edição de hoje do jornal Destak, numa secção dedicada a publicidade(?) à TV Guia, vinha o seguinte excerto de uma reportagem da edição desta semana da revista:

Judite de Sousa
Querida Professora
Duas vezes por semana, Judite de Sousa dá aulas no Instituto Superior de Comunicação Empresarial, no Príncipe Real, em Lisboa. Assistimos a uma aula da jornalista da RTP. Só a dificuldade em estacionar o carro no Príncipe Real fez com que Judite de Sousa não chegasse mais cedo ao Instituto Superior de Comunicação Empresarial (ISCEM), onde dá aulas há 13 anos. «Bom dia, já consegui estacionar. Estava a sair um carro e aproveitei... Isto é complicado...», cumprimentou-nos a jornalista da RTP.

Em rodapé, está escrito: "Leia estas peças na íntegra na edição de hoje da TV Guia!"
Depois de uma amostra destas, como podemos resistir a tal apelo?... A quem é que não interessa saber os problemas que Judite de Sousa tem para estacionar o seu carro? E que chegou atrasada à sua aula?... Já a aula propriamente dita, provavelmente foi posta em segundo plano, afinal que interesse tinha isso comparado com os outros dados fascinantes?...


24 outubro 2005

O 'W' do Wilma

Nos últimos dias têm-se ouvido nos meios de comunicação social, várias notícias sobre o já famoso furacão "Wilma".
O nome do furacão é pronunciado por todos, como "Vilma", lendo o som 'v' . Confesso que isto me tem vindo a intrigar... Porquê pronunciar "Vilma" e não "Uilma"? Acaso o nome é de origem alemã, ou outro idioma em que essa letra se pronuncie como 'v'?... Ou será um aportuguesamento?... Ou será mais um daqueles fenómenos do chamado jornalismo de "pé de microfone", em que um comete uma asneira pela primeira vez, e os outros todos copiam?...
Pode ser um pequenino pormenor, mas porque não, já agora, pronunciar o nome do furacão correctamente?...

22 outubro 2005

Generalizações abusivas

Há momentos ouvi um pivot da SIC Notícias apresentar uma feira de livros sobre o Islão, que está a decorrer na Mesquita de Lisboa, rematando a notícia da seguinte forma: "Uma feira que pretende acabar com os preconceitos dos portugueses."
Dos portugueses? Ou de alguns portugueses? Será que somos um país assim tão preconceituoso, neste caso em relação ao Islão? Eu diria, na minha humilde opinião, que não somos um país assim tão preconceituoso para merecer tal frase. Provavelmente temos, como em todos os outros países, pessoas preconceituosas e pessoas não preconceituosas. Portanto, a referida feira poderia acabar com os preconceitos de alguns dos portugueses, aqueles que efectivamente forem preconceituosos.
Dito dessa forma, não só foi uma generalização abusiva, como também pode ser visto como um insulto ao telespectador, que se vê de repente catalogado como "preconceituoso". A não ser, é claro, que não seja português...
São coisas destas que fazem pensar em que medida os media não contribuem também, em certa medida, para que as pessoas tenham ideias erradas sobre o próprio país... Pois se nos dizem que somos preconceituosos, quem somos nós para duvidar?...

18 outubro 2005

Convidados Indesejados

Há situações tão insólitas, que nem parecem reais... Deparei-me com uma dessas situações ontem, ao ver o noticiário da SIC Notícias.
Já começam a ser vulgares as agressões (físicas e verbais) a jornalistas. Mas ontem a Ministra da Educação decidiu introduzir uma variante no desrespeito pelos profissionais da Comunicação Social. Convidou os jornalistas para a apresentação de um novo programa de Matemática numa escola. Os jornalistas responderam ao convite, deslocando-se à mesma. Mas, surpresa das surpresas, uma vez lá, foram impedidos de entrar!
Perante esta situação, não só os jornalistas ficaram obviamente indignados, mas também algumas professoras que se encontravam no local, e que se retiraram, por achar incompreensível que a Comunicação Social não pudesse ter acesso à apresentação do referido programa.
Após momentos de confusão, aparece na reportagem um senhor, presidente do conselho executivo da escola, a dizer que afinal os jornalistas já podiam entrar. Confrontado com as questões dos jornalistas, em relação ao impedimento de há momentos atrás, este senhor disse desconhecer as razões, e afirmou terem sido "ordens da ministra".
Restava então perguntar à ministra o porquê de tais ordens. E aqui aparece o mais insólito da questão: a ministra afirmou desconhecer a situação, e não sabia porque tinha sido negada a entrada aos jornalistas! Fica então a questão: quem terá sido o autor deste "desconvite" da Comunicação Social? O Pai Natal?...

05 outubro 2005

Mais uma: "inversão do ónus da prova"

Vamos lá a mais uma liçãozita de jornalismo: a coisa mais importante para um jornalista é ser entendido pelo seu público, e entender aquilo que está a dizer.
E agora vou aqui relatar mais um caso em que definitivamente foi ignorada essa regra: O Presidente da República, no seu habitual discurso do 5 de Outubro, falou na necessidade de "inversão do ónus da prova". E os jornalistas mandam-nos a notícia assim, sem mais nem menos, tomem lá o vocabulário jurídico, e safem-se como puderem! Sim, como toda a gente sabe o que é o ónus da prova, certamente que também sabem o que é a inversão do ónus da prova!...
E o mais preocupante no meio disto tudo é pensar: será que os próprios jornalistas sabem aquilo que estão a dizer? Como podem exigir do público que entenda, se muitas vezes eles próprios não entendem?!
Haja bom senso, deixem de se armar em médicos e advogados, e sejam jornalistas!

02 outubro 2005

Paramiloidose?!

Uma das regras fundamentais do jornalismo é: o primeiro parágrafo (ou lead) é o mais importante, é aí que deve estar a informação fundamental da notícia. Outra regra, é que as palavras utilizadas devem ser conhecidas, passíveis de ser compreensíveis pela maior parte do público.
Básico, não é? Então como é possível que jornalistas, já com alguns anos de profissão, consigam, numa só reportagem, quebrar estas duas pequeninas regras?! Acabo de ver, no Telejornal da RTP, uma notícia que é anunciada como uma contestação em relação aos medicamentos, por parte da Fundação Nacional de Paramiloidose. Ora, admito que seja ignorância minha, mas eu NÃO sabia o que era a tal Paramiloidose, e, atrevo-me a dizer, provavelmente há muito mais gente que não sabe. Depois de se ouvir tal palavrão, ficamos na esperança que a jornalista comece a reportagem por explicar o que é a tal de Paramiloidose... Mas não, mergulha logo para a apresentação do problema, os testemunhos das pessoas que fazem parte da fundação. Tudo muito bem, só faltava um pormenor: saber em que consiste a doença!!
Mas ainda mantive a esperança durante uns minutos, podia ser que a explicação aparecesse pelo meio. Expectativas goradas! A reportagem termina, e nada, zero, nicles.
Pronto, tive que recorrer à Internet para descobrir afinal o que é a tal Paramiloidose. Qual não é o meu espanto quando verifico que é a vulgarmente chamada "doença dos pezinhos"! Pergunto: não seria muito mais simples referir a doença por esse nome?... Ou pelo menos explicar que era o equivalente?...
E o pior é que isto não é caso único. Não sei se é um desejo incontrolável que os jornalistas têm de mostrar que sabem palavras difícieis, mas constantemente são utilizados termos que quase de certeza que a maior parte das pessoas não conhece! E para quem é a informação? Não é para o público? Como pode uma pessoa perceber um problema que é apresentado numa reportagem, se não sabe a que se refere? O jornalista não é um técnico, pelo contrário, tem a obrigação de traduzir os termos técnicos!
Mais uma vez: admito que a ignorância seja minha, mas confesso, não sabia o que era a Paramiloidose.

13 setembro 2005

5000... Um Número Demasiado Grande

Cerca de 5000... É este o número de jornalistas desempregados, em Portugal... Um número cruelmente verdadeiro para os que nele estão incluídos, e assustador para os aspirantes a essa profissão...
Todos os que estão a estudar para ser jornalistas, sabem que o que os espera não é animador. Mesmo quando se consegue arranjar emprego, muitas vezes trabalha-se de borla. Trabalha-se muito e recebe-se pouco.
Há muitos jornalistas para poucos postos de trabalho, esta é a realidade! Todos os anos saem das universidades centenas de novos jornalistas, que o mercado não consegue absorver. E é claro que os postos de trabalho não caem do céu, é necessário criá-los. E se calhar o problema é esse: é que nos últimos anos o mercado da comunicação social não tem criado muitas oportunidades novas, antes pelo contrário, verificaram-se despedimentos em alguns meios de comunicação social, e mesmo o fecho de jornais como A Capital e O Comércio do Porto. Senão vejamos: no panorama da imprensa, o mercado permanece igual, à excepção da entrada dos diários gratuitos. No entanto, estes não necessitam de muitos jornalistas para funcionarem. Por sua vez, na televisão, o aparecimento da SIC Notícias veio sem dúvida criar novas oportunidades para os recém-licenciados em jornalismo, nota-se que desde o início o canal faz um esforço por dar oportunidade a caras novas, o que é de louvar. A RTPN também veio abrir novas portas. Mas mesmo assim não chega... Porque no geral, continua a haver jornalistas a mais para trabalho a menos! Os grandes grupos económicos compram e vendem órgãos de comunicação social, aglomerando-os em grandes grupos, mas na verdade não criam nada de novo, apenas estão a mover aquilo que já existe. Não seria necessários criar novos projectos?... E quem sabe, talvez esses novos projectos pudessem passar cada vez mais pela internet, pelo jornalismo online...
Aqui fica a reflexão sobre o estado de coisas do jornalismo em Portugal, feita por uma aspirante a jornalista, que espera não vir a aumentar o terrível número dos 5000... um número demasiado grande para continuar a ser ignorado.

01 setembro 2005

Negócios dos Media...

Acabo de saber que a igreja Maná pretende adquirir uma participação no grupo Media Capital. Tal até não parece ser muito estranho, uma vez que a própria igreja Maná tem uma plataforma de televisão, a Maná Sat, que inclui dois canais de televisão emitidos por via satélite, e vai inaugurar brevemente mais um canal nas ilhas Canárias. Não me interessa aqui relflectir sobre o poder económico desta igreja (nem de outras), nem da forma como obtêm e aplicam o seu dinheiro. O que me interessa aqui é o jornalismo. E por isso, esta notícia só veio aprofundar os meus receios, e acentuar a questão que coloco tantas vezes: Onde é que fica o jornalismo no meio disto tudo?
Cada vez mais o jornalismo fica no meio de negócios, muitos negócios... grandes grupos económicos, compras, vendas, fusões... No meio disto tudo está o jornalismo, estão as pessoas que todos os dias trabalham para dar ao público as notícias. Mas, de uma maneira ou de outra, não o podem fazer sem estar sujeitas aos imperativos das impresas para as quais trabalham... e isso é que me preocupa verdadeiramente. Por um lado, com a formação de grandes grupos económicos, que detêm vários órgãos de comunicação social, vemos um jornalismo cada vez mais homogéneo, cada vez mais igual. Por outro, a pressão das audiências e das vendas traz cada vez mais um jornalismo feito à pressão, e portanto mal feito. E muitas vezes nem se podem culpar os jornalistas, meros peões num enorme jogo de interesses económicos, que têm de fazer tudo o que podem para assegurar o seu emprego...
É isto, fundamentalmente, que me preocupa. Também não tenho uma visão tão purista do jornalismo, que não compreenda que tem uma componente de negócio! Mas quando ele passa a ser um negócio, e quando ainda por cima esse negócio envolve misturas de vários ramos da sociedade, não posso deixar de me perguntar se o jornalismo, no meio disto tudo, pode continuar a ser isento...

27 agosto 2005

Racismo ou Xenofobia?

Ontem à noite, a SIC Notícias noticiava que tinha havido um ataque racista num prédio de Inglaterra, onde residiam portugueses. Quando ouvi aquilo, achei estranho. Racista? Onde estava o racismo? Mais tarde, voltei a ouvir a mesma notícia, no Jornal da Noite da SIC. O pivot repetia que tinha havido um ataque racista, mas a palavra que aparecia nas imagens era "xenófobo". E não será esse o termo indicado? Será que os senhores jornalistas não sabem distinguir entre racismo e xenofobia? Como pode ter havido um ataque racista, se tanto portugueses como ingleses, eram de raça branca? Onde estão as motivações raciais? Confesso que não percebo onde está o racismo... Que eu saiba, os portugueses ainda não são uma raça...



19 agosto 2005

Incêndios, incêndios... e mais incêndios!

Pronto, atingi o limite! Já não aguento ver mais notícias de incêndios nos telejornais! As mesmas imagens, o mesmo tipo de depoimentos, o drama, o choro, as mesmas palavras para descrever as mesmas situações!
Não é preciso ser astrólogo para adivinhar qual vai ser a notícia de abertura do telejornal: incêndios. E é com esse tema que são invariavelmente ocupados os primeiros 15 minutos do noticiário, senão mais. Entre dramáticas reportagens e às vezes igualmente dramáticos directos, todos os dias a cena se repete.
Recentemente alguns psicólogos avançaram com a tese de que as imagens de incêndios podem incitar os incendiários. No que me diz respeito, tenho sérias dificuldades em acreditar em tal tese, que procura encontrar nos media, e nomeadamente na televisão, a origem dos comportamentos criminosos. No entanto, concordaria que há, realmente, imagens em excesso. Em excesso, porque não acrescentam nada à notícia. Tornam-se obrigatoriamente repetitivas, e não informam. A dado momento todos os incêndios parecem iguais!
O que há é um incrível aproveitamento mediático daquilo que é uma enorme tragédia. Torna-se assim uma dupla tragédia: a dos incêndios, e a da forma como são mostrados na televisão.

21 julho 2005

Jornalismo narrativo

Mark Kramer, professor na Universidade de Harvard, deu recentemente em Lisboa, na Escola Superior de Comunicação Social, uma conferência na qual defendeu uma nova corrente de jornalismo, que apelida de "jornalismo narrativo".
Este assunto foi abordado em alguns jornais e em alguns blogs sobre jornalismo, e parece-me uma questão interessante para reflectir.
O que Mark Kramer defende é que há uma crise no jornalismo, e que as pessoas passam cada vez menos tempo a ler jornais. Sendo assim, considera que é necessário que as histórias sejam mais interessantes, de modo a criar uma maior empatia entre jornais e leitores. O que não quer dizer no entanto que defenda que as notícias deixem de se basear em factos.
Ora bem, na minha opinião, pode haver um "jornalismo narrativo" ou "jornalismo literário" em algumas ocasiões, mas é preciso cuidado para não confundir duas áreas que, embora semelhantes em algumas coisas, também têm diferenças fundamentais, que são a literatura e o jornalismo. Depois, também é preciso ver de que tipo de peças jornalísticas estamos a falar. Se for por exemplo uma "Grande Reportagem", penso que se admitem, e até é difícil que não hajam, algumas características literárias. No entanto, como em tudo, é preciso que sejam com conta, peso, e medida, pois uma linguagem demasiado literária, pode, entre outras coisas, tornar a reportagem incompreensível.
A ideia de um "jornalismo narrativo" parece-me portanto à primeira vista algo perigosa... Pois se é inegável que o jornalismo tem sempre alguma componente narrativa, propôr à partida fazer um "jornalismo narrativo", parece tornar o jornalista num "criador de estórias" quando na verdade deve ser um "contador de estórias". Pelo menos é a ideia que o termo "narrativo" parece transmitir... Mas confesso que ainda não tenho ideias bem definidas sobre esta nova corrente, até porque ainda não conheço a fundo os pormenores. Por isso mesmo, por ser uma questão ainda em aberto, parece-me interessante reflectir sobre ela.

17 julho 2005

Diferentes Culturas Noticiosas

Ao observar a cobertura noticiosa dos recentes atentados terroristas em Londres, não pude deixar de reparar como a forma portuguesa de fazer jornalismo difere tanto da britânica.
E difere, em primeiro lugar, no respeito pelo público. Repararam que poucas imagens chocantes foram difundidas? É certo que a polícia também contribuiu para isso, minimizando ao máximo essas imagens, mas mesmo assim... O que se verificou foi um cuidado extremo, um respeito pelo telespectador e pelos públicos mais sensíveis. Aliás, em Inglaterra é frequente o público manifestar o seu desagrado sobre a emissão de imagens mais chocantes, enviando cartas para as televisões. Ao mesmo tempo, houve cuidado também na divulgação das informações, e nomeadamente do número de vítimas. Nada era avançado sem a devida confirmação.
E em Portugal?... Os jornalistas parecem ter ficado obviamente frustrados pela falta de imagens dramáticas, facto que aliás referiam amiúde nas reportagens feitas no local. É claro que não o diziam directamente, mas lia-se nas entrelinhas. Tudo o que podiam era filmar o local onde estava coberto por um plástico azul o autocarro, e as entradas das estações, também elas cobertas. Não lhes era permitido ver mais, e portanto desatavam a fazer conjecturas, e a descrever, de forma adjectivada e dramática, o estado dos corpos dentro do metro, criado uma imagem de horror, à falta de uma verdadeira imagem. Sim, porque imagens de drama e horror, poucas houveram, ao contrário dos atentados em Nova Iorque e em Madrid. E, por muito que os jornalistas tentassem transmitir que estava a ser difícil o regresso à normalidade, o que as imagens mostravam (outras vez essas traiçoeiras imagens!) era precisamente o contrário: as pessoas seguiam com a sua vida.
Concluindo: este foi apenas um exemplo de como há várias formas de fazer jornalismo, e ao mesmo tempo serviu para provar como o jornalismo televisivo ainda está tão dependente das imagens, e como tem dificuldade em abordar uma tragédia sem imagens e depoimentos dramáticos. A meu ver, essa ausência de imagens poderia até ser um desafio ao jornalista para fazer outras abordagens ao tema. Mas, como se verificou, o jornalismo televisivo português, ainda sobrevive muito do drama. E é pena...

01 abril 2005

Morte do Papa em Directo?...

O circo mediático que se tem desenvolvido em redor do estado de saúde do Papa, é tão exagerado que chega a ser extremamente cansativo.
Cada vez que o Papa tem uma recaída, lá vão os media, as estações de televisão, as rádios, a imprensa, correndo para o local, para dar imediato notícias do que se está a passar. Só que na maior parte do tempo nem se passa nada... Para além dos comunicados oficiais do Vaticano, pouco se pode adiantar, a não ser suposições. E no entanto, conseguem preencher-se horas e horas de emissão com este tema!
Seja-se crente ou não, o que está aqui em questão é o exagero, a excessiva concentração dos media neste caso. Cada vez que a saúde do Papa piora, os Telejornais parecem esquecer-se que há outras notícias, transformando-se assim estes blocos informativos em autênticas "novelas papais", intermináveis e redundantes.
Com este exagero mediático, só nos resta questionar se ainda vamos assistir à morte do Papa em directo...

29 março 2005

Não Matem o Mensageiro!

A profissão de jornalista parece tornar-se, a cada dia que passa, cada vez mais uma profissão de risco. Já não bastavam os raptos de jornalistas no Iraque (ainda ontem foram mais três), e a quantidade de jornalistas que são assassinados todos os anos, agora até em Portugal é perigoso ser jornalista!
É verdade, e isto ficou bem provado, quando, nos telejornais da hora de almoço, numa notícia sobre um protesto da Greenpeace numa fábrica de transformação de madeiras, se vê um responsável dessa mesma fábrica a sair do seu carro, dirigir-se a um repórter de imagem, e pregar-lhe um grande tabefe! À primeira vista poderíamos pensar que ele estava a agredir um activista da Greenpeace, mas não! Foi mesmo um jornalista que agrediu! Um profissional que estava somente a fazer o seu trabalho!
Já antes, um outro responsável da fábrica tinha falado em tom azedo aos jornalistas, incluindo-os como parte da manifestação. Ora a ignorância pelos vistos era partilhada pelo outro "senhor", que não faz mais nada senão agredir o jornalista!
Mas a história não fica por aqui: de seguida ainda se vê esse tal "senhor" dirigir-se aos jornalistas dizendo-lhe para irem trabalhar. Pois aí é que está: os jornalistas estavam a trabalhar. Estavam somente a fazer o seu trabalho, não eram manifestantes, nem estavam a insultar ninguém. Mas cometeram o grande erro de mostrar um protesto, que dá má publicidade à empresa. Pois é, esses incómodos jornalistas... Mas se não queriam má publicidade, a agressão é capaz de não ter ajudado muito...
Por favor, não "matem o mensageiro"!

28 março 2005

Onde Está a Reportagem?

Há dias, no Público, numa habitual secção de crítica de TV, vinha um interessante texto que levantava a questão da reportagem (ou a falta dela) nas nossas televisões generalistas.
Luciano Alvarez, autor desta crítica, refere o facto de a reportagem ter voltado às televisões generalistas portuguesas, nomeadamente à SIC e à TVI. No entanto, lamenta que, à excepção das reportagens enviadas por Henrique Cymerman, faltem reportagens internacionais. E coloca a questão: Porque é que a RTP, tendo tantos correspondentes espalhados por todo o mundo, não preenche esta lacuna? Dá, realmente, para reflectir...
E poderíamos começar por questionar a ausência de qualquer tipo de reportagem, mesmo nacional, no canal público. Porquê?... Não teria este ainda mais obrigação que os outros de investir na reportagem, na investigação profunda de assuntos que vão para além da actualidade?... Isto, claro, sem cair na exploração de casos pessoais, que, como refere Luciano Alvarez, resultam muitas vezes em trabalhos de mau gosto, falsamente apelidados de "reportagens".
É realmente um desperdício não aproveitar a quantidade de correspondentes da RTP por esse mundo fora, para fazer trabalhos de grande qualidade jornalística! Dar a conhecer aos portugueses outros povos, outras questões, novas paisagens... tanta coisa poderia ser feita!...
Mas, em minha opinião, em matéria de reportagem a SIC já dá um contributo bastante bom, eu diria mesmo excelente, com a sua Grande Reportagem, exibida todos os sábados no Jornal de Sábado. Com qualidade, explora temas que não estão tanto na ordem do dia, procura o que está para além do evidente, mesmo que seja polémico, mas sem cair na exploração e nas histórias de "pôr a lágrima ao canto do olho". Se comovem, é porque mostram o lado humano dos problemas. Nesse aspecto, a meu ver, a SIC está de parabéns.
Pena que não haja mais projectos como a Grande Reportagem nas nossas televisões! E é ainda mais lamentável que a reportagem tenha desaparecido da televisão que se diz ser "de todos e de cada um". Eu cá junto-me a Luciano Alvarez nesta sua crítica, e acho que a RTP só teria a ganhar em voltar a apostar na reportagem, esse género jornalístico por vezes um pouco esquecido. E porque não apostar nas reportagens internacionais?...

27 março 2005

"Bad News is Good News"?

Os media são frequentemente acusados de só darem "desgraças". Há até, no meio jornalístico aquela famosa exepressão "bad news is good news". No entanto, há que perceber se essas más notícias são dadas com o intuito de informar, de denunciar injustiças, ou se muitas vezes são aproveitadas, e dramatizadas até à exaustão, servindo de instrumento de captação de audiências.
Eu diria que acontece um pouco das duas coisas. Ou seja, os media têm, por natureza, que dar más notícias! Faz parte do trabalho de um jornalista denunciar aquilo que está mal, dar a conhecer aquilo que está oculto, e isso muitas vezes não é agradável. Mas por outro lado, há muitas vezes (demasiadas) um aproveitamento excessivo desses acontecimentos, que são explorados e dramatizados, transformando-se em autênticas novelas. Isso não é jornalismo, é exploração.
Quem não se lembra de ver repetidas dezenas de vezes as imagens do tsunami na Ásia? E as do atentado de Madrid de 11 de Março? E as de 11 de Setembro nos EUA? Haveria necessidade de tal exploração?
É ao mesmo tempo engraçada a relação do público com os media: são capazes de mudar de canal perante imagens de uma tragédia humanitária em África, porque é uma "desgraça", ao mesmo tempo que logo a seguir ficam "colados" ao ecrã perante a notícia de um crime insólito, ou mais um caso de pedofilia. Pois é, o problema dos media é oferecerem às pessoas essas tais "desgraças", essa parte da realidade que elas não querem ver, a par com a outra realidade, que não só querem ver, como até lhes provoca uma imensa curiosidade...
Parece então haver aqui uma relação recíproca: ou seja, os media dão ao público aquilo que ele quer ver, os media sabem que as más notícias vendem.
O jornalismo será sempre, inevitavelmente feito de más notícias. O que não deve haver é um exagero. Porque a realidade também não é toda má, deve tentar-se encontrar um "ponto de equilíbrio" entre os factos menos e mais agradáveis. Afinal, os jornalistas não dão só más notícias!!

26 março 2005

Jovens Portugueses Grandes Consumidores de Imprensa (???)

Um novo estudo sobre o impacto da imprensa nos jovens portugueses, vem hoje no Correio da Manhã, com o título "Imprensa Cativa Jovens". Segundo esta sondagem (?) da agência de meios Media Planning, parece que afinal não temos razões para nos preocuparmos, porque os jovens portugueses, até se informam acima da média!..
É verdade, parece que a percentagem de jovens entre os 15 e os 24 anos que compram jornais e revistas até ultrapassa os níveis de consumo geral! As revistas batem os jornais (94% e 85,3% respectivamente), enquanto a rádio tem 72,9% de preferência. Já quanto ao género preferido, são os jornais generalistas e os desportivos os mais lidos, ocupando mais de metade do seu tempo de leitura. Os jovens adultos (entre 18 e 24 anos) questionados neste estudo revelam uma maior apetência para ler o ‘Jornal de Notícias’ (15,1%), seguido de ‘A Bola (13,6%), o ‘Record’ (13,2%) e o ‘Correio da Manhã’ (11,9%).
Ora bem, para começar, nem sequer vem referida a ficha técnica desta sondagem ou estudo, ou seja: população de inquiridos, área geográfica onde foram feitas as entrevistas, margem de erro, etc. E depois, este estudo não permite concluir que os jovens portugueses andam devidamente informados, mas sim que compram revistas (que podem ser do mais variado género) e jornais. E será que os jornais desportivos contribuem para a formação de um jovem enquanto cidadão?... Quanto muito, transformam-no num excelente "treinador de bancada"...
Ou seja, perdoem-me a desconfiança, mas este estudo não me parece corresponder à realidade, além de ser pouco preciso. Dizer que "a imprensa cativa os jovens" não é necessariamente dizer que as notícias cativam os jovens. E dizer que grande percentagem dos inquiridos ouve rádio, não explicita se ouvem notícias, ou somente música. Conluindo, este é um estudo meramente económico (indicador dos níveis de consumo), mas completamente opaco em relação àquilo que realmente interessa: estão os jovens portugueses devidamente informados?

25 março 2005

A liberdade depende dos jornalistas?

A Revista Correio Tv, que sai às sextas-feiras com o Correio da Manhã traz hoje uma entrevista com Mário Crespo, em que este afirma que a liberdade depende muito dos jornalistas. Esta afirmação vem na sequência da pergunta: "Hoje faz-se jornalismo com liberdade em Portugal?".
Talvez valesse a pena reflectir sobre isto... será que a liberdade depende realmente muito dos jornalistas?... Segundo Mário Crespo, «Faz-se com a total liberdade que se quer ter e com as constrições que se quer ter. Se alguém se sente incomodado com alguma linha e deixa que isso afecte o seu trabalho, bom, isso é um problema da consciência da pessoa. Em Portugal, hoje, não há razões para se poder suspeitar que não há liberdade. Claro que há liberdade.». Pois é, aparentemente a questão estaria resolvida: um jornalista que não se sentisse confortável com a linha editorial do órgão de comunicação em que trabalha, simplesmente não faria o trabalho. Seria apenas um problema da consciência de cada um. Mas, infelizmente, sabe-se que na prática as coisas não funcionam assim. Perante a dificuldade em arranjar emprego, e a cada vez maior concentração dos órgãos de comunicação social, a situação não é tão simples. Porque, para além de um problema de consciência, os jornalistas vêm-se confrontados com o drama do desemprego. Será que isto é liberdade?...
O que parece haver é uma aparente liberdade, ou seja, os tempos do lápis azul da censura já lá vão, mas então e a auto-censura? Isso não é também uma restrição à liberdade? A diferença parece ser que, se anteriormente essa censura era feita com base em factores políticos, agora é feita por razões que podemos talvez chamar de económicas, financeiras, de sobrevivência, no fim de contas, porque os jornalistas precisam do seu salário, por muito reduzido que seja (e muitas vezes é...).
Voltemos então à afirmação de Mário Crespo. A liberdade depende muito dos jornalistas? Claro que sim. O problema é que não depende SÓ dos jornalistas...

24 março 2005

Correcção

Uma correcção ao meu último post: afinal parece que as televisões sempre acabaram por aparecer, ou pelo menos a SIC, pois noticiaram o ocorrido na SIC Notícias.
De qualquer forma, as questões mantêm-se: o que é uma notícia, quem decide o que é ou não notícia, e ainda porque é que umas notícias têm mais destaque que outras. Talvez fosse interessante pensar sobre isto...

Ser ou Não Ser Notícia: Eis a Questão

Um dos conceitos com que um jornalista tem de lidar todos os dias, é, obviamente, o conceito de "notícia". Mas podemos perguntar-nos o que é, afinal, uma notícia.
Num dicionário da Língua Portuguesa, "notícia" vem definida como: «Relatório ou informação sobre um acontecimento recente; aquilo que se ouve pela primeira vez; assunto de interesse, matéria adequada para jornais e noticiários de rádio e/ou televisão; conhecimento; informação; noção; nota; observação; apontamento; resumo (...)». Como podemos ver, a definição é bastante extensa. Mas resumindo, uma notícia deve ser: um acontecimento recente, um assunto de interesse, e deve ter informação.
Vejamos agora dois casos distintos:
- Na primeira página do Correio da Manhã de hoje vem, em lugar de destaque, uma fotografia que ocupa um espaço considerável, e na qual se podem ver Manuela Moura Guedes e José Eduardo Moniz, com o seguinte título: «MONIZ fala em directo durante operação». Sem dúvida, uma notícia importante, digna de primeira página! É um acontecimento recente? Sim. Tem interesse? Eu diria que o interesse é bastante reduzido. Tem informação? Pouca, ou quase nenhuma.
- Num café de um dos bairros mais tradicionais de Lisboa houve, esta manhã, um incêndio. Não houve feridos, mas a situação esteve bastante complicada. Posso assegurar, porque testemunhei, que nenhuma televisão apareceu no local. A única personagem que se parecia com um jornalista era um fotógrafo, esse sim, esteve lá desde o início, e foi fotografando de vários ângulos o que se estava a passar. Muito tempo depois, lá apareceram duas jornalistas, que certamente eram da imprensa escrita, pois não se avistavam câmaras no local.
Perante estes dois casos, podemos perguntar-nos: qual deles é mais notícia? O que é que faz com que um acontecimento seja notícia? No caso do incêndio do café, não havia mortos nem feridos, por isso o interesse das televisões foi nulo. Mas se tivesse sido a casa de Moniz a incendiar-se, então, de certeza que não só apareceria nos directos de todos os telejornais, como faria manchetes nos jornais de amanhã. Este, se chegar sequer a aparecer, não vai ser com certeza na capa...
Isto dá que pensar... afinal, o que é uma notícia? Quais são os critérios para um acontecimento ascender à categoria de notícia? Quem decide o que é notícia e o que não é? Será que tem de haver um determinado número de mortos e de feridos, para que o acontecimento se torne interessante? Será que as pessoas em causa têm de ter um determinado nível de reconhecimento social? Ou, simplesmente, não há critérios, ou melhor, há os critérios desta lógica económica que impera nos meios de comunicação social, e que parece fazer com que cada vez mais o jornalismo seja feito daquilo que dá audiências, e vende jornais, e não dos verdadeiros acontecimentos?... Onde fica a verdadeira essência das notícias no meio disto tudo?...

23 março 2005

Os Jovens e as Notícias

Num estudo divulgado há pouco tempo, concluiu-se que os jovens portugueses, na sua maioria, dão pouca atenção às notícias. O mesmo é dizer que não vêm telejornais, não ouvem noticiários na rádio, e ler jornais ainda muito menos.
E isto não surpreende. Basta andarmos na rua, ou nos trasportes públicos, e observar a população jovem. Quantos têm um jornal na mão? Quantos lêem uma revista de qualidade, como por exemplo a Visão? Os dedos de uma mão seriam suficientes para os contar... E mais grave é ainda, quando em plena aula de um curso de Ciências da Comunicação, perante a pergunta "quem é que lê jornais?", a maioria confessa não ter esse hábito. É este o futuro do jornalismo?...
E qual será a desculpa?... Hoje, em plena era da globalização de tudo, incluindo da informação, em que proliferam os jornais gratuitos, quem pode ousar dizer que não se informa porque não pode? Não, hoje só não se informa quem não quer!
E não são só os jovens que não se informam. Mas é deles que falo hoje, não só porque é a eles que se refere o estudo, como acho que ninguém se pode constituir como pessoa se não estiver informado, e ainda porque, como jovem, me entristece esta falta de informação daqueles que serão os homens e mulheres de amanhã.
E o que fazer perante isto? O que fazer para aproximar as notícias dos jovens? É preciso, por um lado, que estes percebam a necessidade de estar informados. Mas não será que por parte desses tão grandes grupos económicos que há hoje no campo da comunicação social, poderia também haver iniciativas nesse sentido? Como por exemplo, à semelhança dos jornais gratuitos que já existem, fazer um que fosse mais direccionado para a camada jovem. Um jornal mais apelativo, com assuntos que interessam aos jovens, mas sem cair nas banalidades das revistas de adolescentes. A informação mostrada como algo que não tem de ser chato, como algo que também lhes diz respeito. E distribuir o jornal nos estabelecimentos de ensino, locais frequentados por jovens, etc.
Enfim, isto é só uma ideia, utópica talvez... mas como futura jornalista, preocupa-me realmente a forma como a informação passa ao lado dos mais jovens, e preocupa-me ainda mais verificar que muitos dos jornalistas de amanhã nem sequer conhecem verdadeiramente a informação. Simplesmente porque não se informam...

22 março 2005

O directo

Vou iniciar esta minha primeira viagem a este país encantado, falando do directo. O directo, esse verdadeiro "vício" da informação televisiva dos dias de hoje!...
Dizia há dias um professor meu, que hoje em dia vive-se uma verdadeira "cultura do directo" nas televisões. E que muitas vezes, esse directo resulta em muito pouca informação concreta. Não posso deixar de concordar, e mesmo o espectador mais desatento pode confirmar isso todos os dias nos nossos telejornais.
O directo, é, de certa forma, a maneira de as televisões dizerem: "nós estamos em cima do acontecimento, nós estamos lá, nós chegámos primeiro". O problema é que nem sempre isso se concretiza em informação para o telespectador, e pelo contrário dá origem a situações um tanto ou quanto absurdas, como estarmos a olhar para uma porta, à espera que saia uma personalidade importante, que teima em não sair!
No fim de contas, a verdade é que se fôssemos analisar os directos das nossas televisões, com certeza a maioria teria uma quantidade de informação mínima! O que acontece muitas vezes é estarmos a ouvir um jornalista a "encher pneus", que é como quem diz, a queimar tempo, ou então fazem-se aquelas perguntas completamente despropositadas, como o famoso caso da jornalista da TVI, que em plena noite eleitoral, pergunta ao recém-eleito primeiro-ministro como se sente!
Há, claramente, um exagero do recurso ao directo! E a questão é que isso dá ao público uma falsa sensação de informação. O directo, é importante sim, eu diria que em certas situações é mesmo essencial, mas, como tudo, deve ser usado com conta, peso e medida...

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