"If I ever allow genuine compassion to be overtaken by personal ambition, I will have sold my soul" - James Nachtwey

30 novembro 2005

A Ideia Fixa de Judite de Sousa

Não resisto a pôr aqui um link para o site do Clube de Jornalistas, onde hoje se pode ler um texto de Ribeiro Cardoso sobre a entrevista de Judite de Sousa a Manuel Alegre, com o título "Tricas em horário nobre".
É que reparei exactamente no mesmo... mas pensei que fosse impressão minha.
Fica então aqui o link para quem estiver interessado, e quem sabe, tenha visto a entrevista, e se tenha também apercebido disto.

27 novembro 2005

Pacto com os Jornalistas

Mário Soares propôs aos jornalistas um pacto, para que não o fizessem pronunciar-se sobre determinadas questões, enquanto candidato às Presidenciais. Segundo Soares, os jornalistas podem colocar-lhe as questões que quiserem, que ele não se pronunciará.
Não deixa de ser engraçado este "pacto" de Soares... parece pôr do lado dos jornalistas a responsabilidade de determinadas afirmações que possa ter proferido. Mas é que o trabalho dos jornalistas é, precisamente, fazer perguntas. Cabe depois ao visado responder ou não.
É curiosa a utilização dos jornalistas por parte dos políticos... Quando, num determinado combate político, acham que é altura de parar de "deitar achas para a fogueira", a culpa foi dos jornalistas, porque os "obrigaram" a proferir aquelas declarações, quando eles, coitados, até não queriam...
Pois é, os "malandros" dos jornalistas!...

26 novembro 2005

A (Ir)Responsabilidade dos Media

O jornal Público dá hoje conta da deliberação da Alta Autoridade Para a Comunicação Social relativamente ao trabalho dos media no tratamento do famoso "arrastão" de Carcavelos.
Muito já foi dito e escrito sobre esse assunto, por isso não vou aqui mais "bater nessa tecla".
O que me parece ser preocupante é que o comportamento dos media nesta situação foi apenas um dos muitos sintomas da falta de sentido de responsabilidade que estes parecem ter enquanto formadores da opinião pública.
Informar é, cada vez mais, um acto de grande responsabilidade. E o que se passa hoje é que os media já não têm responsabilidade apenas na transmissão dos acontecimentos, podem agir também enquanto causadores desses mesmos acontecimentos. Podemos pensar por exemplo no papel que os media tiveram enquanto estimuladores dos distúrbios em França. Podemos questionar-nos se o facto de esses acontecimentos terem sido tão abundantemente noticiados não poderá ter tido influência nos próprios acontecimentos...
Não estou aqui a defender uma tese apocalíptica dos media (até porque espero fazer parte deles), o que defendo é mais cuidado na forma como a informação é dada, um pouco mais de consciência do importantíssimo papel dos meios de Comunicação Social.
E talvez essa formação para a responsabilidade dos jornalistas devesse começar nas próprias universidades, nos próprios cursos. Alertando para a necessidade de rigor, para a responsabilidade da profissão, para o poder que uma simples notícia pode ter... Porque ser jornalista não é só saber escrever notícias. E o que mais me preocupa é a formação de jornalistas autómatos, sem sentido crítico, e por isso incapazes de, por exemplo num acontecimento como o "arrastão", avaliarem aquilo que realmente se passou. E incapazes de pedirem desculpa quando manifestamente erraram.

19 novembro 2005

O Público Errou... Em Letras Bem Grandes

Na edição de hoje do jornal Público, na secção "Cultura", pode ler-se uma notícia com o seguinte título, em letras bem grandes: "Finlandeses Sigur Rós regressam à luz nos coliseus".
O lead dessa mesma notícia começa da seguinte forma: "Banda islandesa regressa a Portugal com Takk... (...)".
Ah, então afinal ainda são islandeses! É que por momentos pensei que tivessem mudado de nacionalidade...
Chama-se a isto um erro em letras bem grandes!
Pergunto: não houve ninguém que o detectasse? Já não digo o autor da notícia, que esse estava visivelmente confuso...
Enfim, mais uma para a secção "O Público errou"...

18 novembro 2005

Está Explicado...

Ainda a propósito dos jornais gratuitos, acabo de ler uma notícia na edição de hoje do Diário de Notícias, que de alguma forma pode ser esclarecedora em relação ao post anterior.
A notícia dá conta da realização do II Congresso Jornalístico de Portugal e Espanha, em que participaram João Marcelino, director do Correio da Manhã, José António Saraiva, director do Expresso e Francisco Pinto Barbosa, director do Destak, entre outros.
Mas foi no debate sobre "Qual a veracidade dos jornais gratuitos" que as coisas terão ficado mais animadas. Após a acusação de João Marcelino, de que os gratuitos "são suportes impressos destinados a veicular publicidade", e que apostam pouco na informação, Francisco Barbosa respondeu que "é preciso compreender que são produtos diferentes. O Destak destina-se aos não leitores e quando se fala de qualidade, isso deve ser tido em conta" (sublinhado meu).
Então quer dizer que, sendo um jornal destinado aos não leitores, como o classifica Pinto Barbosa, as exigências de qualidade são menores? Pronto, está explicado porque depois se encontram notícias como aquela de ontem, e como repetidamente o Destak mostra uma enorme falta de cuidado na verificação da informação.
O problema é que não são só os não leitores que lêem o Destak... Aliás, nem sei o que seja isso de não leitores, se uma pessoa lê um jornal que seja, já é leitora... De qualquer forma, é um leitor, e merece ser respeitado como tal. E o mínimo que o jornal pode fazer é fornecer informação exacta aos seus leitores. Agora se depois a organiza de forma mais "light", isso já é outra história... mas não tem necessariamente a ver com qualidade.
Portanto, Pinto Barbosa ao dizer isto, veio dar razão a João Marcelino. O Destak parece estar mais interessado em veicular publicidade, do que propriamente em informar. E isso é mau... mau para o jornalismo, mau para o público em geral, se tivermos em consideração que há pessoas para quem os gratuitos são a única fonte de informação.
O Destak tem vindo a promover-se com o slogan: "Para quem não gosta de ler palha". O pior é com juntamente com a "palha", deita também fora a qualidade...
Fica aqui o link para quem quiser ver a notícia completa.

17 novembro 2005

Grandes Equívocos...

Nos dois jornais gratuitos diários vinha hoje uma notícia sobre um estudo realizado por uma socióloga,sob o tema "Trajectórias Académicas e de Inserção Profissional da Universidade de Lisboa". Como o próprio nome indica, esse estudo foi apresentado na Universidade de Lisboa.
Mas ao ler a notícia, primeiro no Destak e depois no Metro, fiquei confusa... O Destak começa por dizer que "Sete em cada dez diplomados pela Universidade Nova de Lisboa entre 1999 e 2003 são mulheres e perto de metade provém de famílias com pouca escolaridade, revela um estudo daquela instituição apresentado ontem, em Lisboa." Mas a seguir a Universidade já é outra. O Destak continua: "Segundo o trabalho «Trajectórias Académicas e de Inserção Profissional da Universidade de Lisboa (...)". Então em que ficamos? Afinal é a Universidade Nova de Lisboa ou a Universidade de Lisboa? É que são universidades diferentes...
Decidi investigar o caso. Abri então outro jornal gratuito, o Metro. E lá vinha a mesma notícia, e, maravilha das maravilhas, a mesma contradição! Coincidência? Não, tinha de haver outra explicação. E a explicação devia estar na fonte. No caso da notícia do Metro, a fonte vem identificada como sendo a Lusa, o Destak nem sequer identifica, mas é óbvio que foi a mesma.
O que se passou então aqui? A Lusa fez uma confusão entre universidades, e fala de duas universidades diferentes como se fossem a mesma. E os jornais publicaram a notícia sem se aperceberem do erro, o que é duplamente (triplamente) grave...

04 novembro 2005

Traduções Simultâneas

Confesso que não percebo isto: o hábito que os jornalistas de televisão têm de, quando está a ser transmitido um discurso em directo de uma qualquer personalidade, aproveitarem as pausas para introduzir comentários, parafraseando o que a pessoa acabou de dizer, como se estivessem a fazer uma tradução.
Tenho visto isto ser feito repetidas vezes e pergunto-me qual é a utilidade... O espectador ouve aquilo que acabou de ouvir da boca da própria pessoa repetido pelo jornalista, e pensa: "Então mas julgam que eu sou parvo? Isto acabei eu de ouvir!". Torna-se profundamente irritante.
Exemplo: Manuel Alegre diz: "O Presidente da República não pode assistir passivamente à ocupação partidária dos lugares de nomeação pública". E logo a seguir o bom do jornalista faz a "tradução" dizendo algo como: Manuel Alegre a defender aqui que o Presidente da República não pode assistir passivamente à ocupação partidária dos lugares de nomeação pública.
E pior que isto é quando o jornalista parafraseia erradamente, acrescentando coisas que a pessoa não disse, e fazendo a sua própria interpretação. É que se as falsas citações já são graves, ainda mais grave é quando são feitas em directo!
Parece que os jornalistas de televisão têm pânico de estar em silêncio, sentem-se na obrigação de dizer alguma coisa. A questão é que às vezes não há mesmo nada a dizer, ou melhor, aquilo que interessa ser dito está a ser dito por outra pessoa. O discurso fala por si, não são precisas traduções. E os comentários podem ser úteis se realmente acrescentarem algo de novo, um esclarecimento, algo que seja importante para o telespectador.
Há ocasiões, em que os jornalistas, como se costuma dizer, "perdem uma boa oportunidade para estar calados". E deixar falar o acontecimento...