"If I ever allow genuine compassion to be overtaken by personal ambition, I will have sold my soul" - James Nachtwey

29 março 2005

Não Matem o Mensageiro!

A profissão de jornalista parece tornar-se, a cada dia que passa, cada vez mais uma profissão de risco. Já não bastavam os raptos de jornalistas no Iraque (ainda ontem foram mais três), e a quantidade de jornalistas que são assassinados todos os anos, agora até em Portugal é perigoso ser jornalista!
É verdade, e isto ficou bem provado, quando, nos telejornais da hora de almoço, numa notícia sobre um protesto da Greenpeace numa fábrica de transformação de madeiras, se vê um responsável dessa mesma fábrica a sair do seu carro, dirigir-se a um repórter de imagem, e pregar-lhe um grande tabefe! À primeira vista poderíamos pensar que ele estava a agredir um activista da Greenpeace, mas não! Foi mesmo um jornalista que agrediu! Um profissional que estava somente a fazer o seu trabalho!
Já antes, um outro responsável da fábrica tinha falado em tom azedo aos jornalistas, incluindo-os como parte da manifestação. Ora a ignorância pelos vistos era partilhada pelo outro "senhor", que não faz mais nada senão agredir o jornalista!
Mas a história não fica por aqui: de seguida ainda se vê esse tal "senhor" dirigir-se aos jornalistas dizendo-lhe para irem trabalhar. Pois aí é que está: os jornalistas estavam a trabalhar. Estavam somente a fazer o seu trabalho, não eram manifestantes, nem estavam a insultar ninguém. Mas cometeram o grande erro de mostrar um protesto, que dá má publicidade à empresa. Pois é, esses incómodos jornalistas... Mas se não queriam má publicidade, a agressão é capaz de não ter ajudado muito...
Por favor, não "matem o mensageiro"!

28 março 2005

Onde Está a Reportagem?

Há dias, no Público, numa habitual secção de crítica de TV, vinha um interessante texto que levantava a questão da reportagem (ou a falta dela) nas nossas televisões generalistas.
Luciano Alvarez, autor desta crítica, refere o facto de a reportagem ter voltado às televisões generalistas portuguesas, nomeadamente à SIC e à TVI. No entanto, lamenta que, à excepção das reportagens enviadas por Henrique Cymerman, faltem reportagens internacionais. E coloca a questão: Porque é que a RTP, tendo tantos correspondentes espalhados por todo o mundo, não preenche esta lacuna? Dá, realmente, para reflectir...
E poderíamos começar por questionar a ausência de qualquer tipo de reportagem, mesmo nacional, no canal público. Porquê?... Não teria este ainda mais obrigação que os outros de investir na reportagem, na investigação profunda de assuntos que vão para além da actualidade?... Isto, claro, sem cair na exploração de casos pessoais, que, como refere Luciano Alvarez, resultam muitas vezes em trabalhos de mau gosto, falsamente apelidados de "reportagens".
É realmente um desperdício não aproveitar a quantidade de correspondentes da RTP por esse mundo fora, para fazer trabalhos de grande qualidade jornalística! Dar a conhecer aos portugueses outros povos, outras questões, novas paisagens... tanta coisa poderia ser feita!...
Mas, em minha opinião, em matéria de reportagem a SIC já dá um contributo bastante bom, eu diria mesmo excelente, com a sua Grande Reportagem, exibida todos os sábados no Jornal de Sábado. Com qualidade, explora temas que não estão tanto na ordem do dia, procura o que está para além do evidente, mesmo que seja polémico, mas sem cair na exploração e nas histórias de "pôr a lágrima ao canto do olho". Se comovem, é porque mostram o lado humano dos problemas. Nesse aspecto, a meu ver, a SIC está de parabéns.
Pena que não haja mais projectos como a Grande Reportagem nas nossas televisões! E é ainda mais lamentável que a reportagem tenha desaparecido da televisão que se diz ser "de todos e de cada um". Eu cá junto-me a Luciano Alvarez nesta sua crítica, e acho que a RTP só teria a ganhar em voltar a apostar na reportagem, esse género jornalístico por vezes um pouco esquecido. E porque não apostar nas reportagens internacionais?...

27 março 2005

"Bad News is Good News"?

Os media são frequentemente acusados de só darem "desgraças". Há até, no meio jornalístico aquela famosa exepressão "bad news is good news". No entanto, há que perceber se essas más notícias são dadas com o intuito de informar, de denunciar injustiças, ou se muitas vezes são aproveitadas, e dramatizadas até à exaustão, servindo de instrumento de captação de audiências.
Eu diria que acontece um pouco das duas coisas. Ou seja, os media têm, por natureza, que dar más notícias! Faz parte do trabalho de um jornalista denunciar aquilo que está mal, dar a conhecer aquilo que está oculto, e isso muitas vezes não é agradável. Mas por outro lado, há muitas vezes (demasiadas) um aproveitamento excessivo desses acontecimentos, que são explorados e dramatizados, transformando-se em autênticas novelas. Isso não é jornalismo, é exploração.
Quem não se lembra de ver repetidas dezenas de vezes as imagens do tsunami na Ásia? E as do atentado de Madrid de 11 de Março? E as de 11 de Setembro nos EUA? Haveria necessidade de tal exploração?
É ao mesmo tempo engraçada a relação do público com os media: são capazes de mudar de canal perante imagens de uma tragédia humanitária em África, porque é uma "desgraça", ao mesmo tempo que logo a seguir ficam "colados" ao ecrã perante a notícia de um crime insólito, ou mais um caso de pedofilia. Pois é, o problema dos media é oferecerem às pessoas essas tais "desgraças", essa parte da realidade que elas não querem ver, a par com a outra realidade, que não só querem ver, como até lhes provoca uma imensa curiosidade...
Parece então haver aqui uma relação recíproca: ou seja, os media dão ao público aquilo que ele quer ver, os media sabem que as más notícias vendem.
O jornalismo será sempre, inevitavelmente feito de más notícias. O que não deve haver é um exagero. Porque a realidade também não é toda má, deve tentar-se encontrar um "ponto de equilíbrio" entre os factos menos e mais agradáveis. Afinal, os jornalistas não dão só más notícias!!

26 março 2005

Jovens Portugueses Grandes Consumidores de Imprensa (???)

Um novo estudo sobre o impacto da imprensa nos jovens portugueses, vem hoje no Correio da Manhã, com o título "Imprensa Cativa Jovens". Segundo esta sondagem (?) da agência de meios Media Planning, parece que afinal não temos razões para nos preocuparmos, porque os jovens portugueses, até se informam acima da média!..
É verdade, parece que a percentagem de jovens entre os 15 e os 24 anos que compram jornais e revistas até ultrapassa os níveis de consumo geral! As revistas batem os jornais (94% e 85,3% respectivamente), enquanto a rádio tem 72,9% de preferência. Já quanto ao género preferido, são os jornais generalistas e os desportivos os mais lidos, ocupando mais de metade do seu tempo de leitura. Os jovens adultos (entre 18 e 24 anos) questionados neste estudo revelam uma maior apetência para ler o ‘Jornal de Notícias’ (15,1%), seguido de ‘A Bola (13,6%), o ‘Record’ (13,2%) e o ‘Correio da Manhã’ (11,9%).
Ora bem, para começar, nem sequer vem referida a ficha técnica desta sondagem ou estudo, ou seja: população de inquiridos, área geográfica onde foram feitas as entrevistas, margem de erro, etc. E depois, este estudo não permite concluir que os jovens portugueses andam devidamente informados, mas sim que compram revistas (que podem ser do mais variado género) e jornais. E será que os jornais desportivos contribuem para a formação de um jovem enquanto cidadão?... Quanto muito, transformam-no num excelente "treinador de bancada"...
Ou seja, perdoem-me a desconfiança, mas este estudo não me parece corresponder à realidade, além de ser pouco preciso. Dizer que "a imprensa cativa os jovens" não é necessariamente dizer que as notícias cativam os jovens. E dizer que grande percentagem dos inquiridos ouve rádio, não explicita se ouvem notícias, ou somente música. Conluindo, este é um estudo meramente económico (indicador dos níveis de consumo), mas completamente opaco em relação àquilo que realmente interessa: estão os jovens portugueses devidamente informados?

25 março 2005

A liberdade depende dos jornalistas?

A Revista Correio Tv, que sai às sextas-feiras com o Correio da Manhã traz hoje uma entrevista com Mário Crespo, em que este afirma que a liberdade depende muito dos jornalistas. Esta afirmação vem na sequência da pergunta: "Hoje faz-se jornalismo com liberdade em Portugal?".
Talvez valesse a pena reflectir sobre isto... será que a liberdade depende realmente muito dos jornalistas?... Segundo Mário Crespo, «Faz-se com a total liberdade que se quer ter e com as constrições que se quer ter. Se alguém se sente incomodado com alguma linha e deixa que isso afecte o seu trabalho, bom, isso é um problema da consciência da pessoa. Em Portugal, hoje, não há razões para se poder suspeitar que não há liberdade. Claro que há liberdade.». Pois é, aparentemente a questão estaria resolvida: um jornalista que não se sentisse confortável com a linha editorial do órgão de comunicação em que trabalha, simplesmente não faria o trabalho. Seria apenas um problema da consciência de cada um. Mas, infelizmente, sabe-se que na prática as coisas não funcionam assim. Perante a dificuldade em arranjar emprego, e a cada vez maior concentração dos órgãos de comunicação social, a situação não é tão simples. Porque, para além de um problema de consciência, os jornalistas vêm-se confrontados com o drama do desemprego. Será que isto é liberdade?...
O que parece haver é uma aparente liberdade, ou seja, os tempos do lápis azul da censura já lá vão, mas então e a auto-censura? Isso não é também uma restrição à liberdade? A diferença parece ser que, se anteriormente essa censura era feita com base em factores políticos, agora é feita por razões que podemos talvez chamar de económicas, financeiras, de sobrevivência, no fim de contas, porque os jornalistas precisam do seu salário, por muito reduzido que seja (e muitas vezes é...).
Voltemos então à afirmação de Mário Crespo. A liberdade depende muito dos jornalistas? Claro que sim. O problema é que não depende SÓ dos jornalistas...

24 março 2005

Correcção

Uma correcção ao meu último post: afinal parece que as televisões sempre acabaram por aparecer, ou pelo menos a SIC, pois noticiaram o ocorrido na SIC Notícias.
De qualquer forma, as questões mantêm-se: o que é uma notícia, quem decide o que é ou não notícia, e ainda porque é que umas notícias têm mais destaque que outras. Talvez fosse interessante pensar sobre isto...

Ser ou Não Ser Notícia: Eis a Questão

Um dos conceitos com que um jornalista tem de lidar todos os dias, é, obviamente, o conceito de "notícia". Mas podemos perguntar-nos o que é, afinal, uma notícia.
Num dicionário da Língua Portuguesa, "notícia" vem definida como: «Relatório ou informação sobre um acontecimento recente; aquilo que se ouve pela primeira vez; assunto de interesse, matéria adequada para jornais e noticiários de rádio e/ou televisão; conhecimento; informação; noção; nota; observação; apontamento; resumo (...)». Como podemos ver, a definição é bastante extensa. Mas resumindo, uma notícia deve ser: um acontecimento recente, um assunto de interesse, e deve ter informação.
Vejamos agora dois casos distintos:
- Na primeira página do Correio da Manhã de hoje vem, em lugar de destaque, uma fotografia que ocupa um espaço considerável, e na qual se podem ver Manuela Moura Guedes e José Eduardo Moniz, com o seguinte título: «MONIZ fala em directo durante operação». Sem dúvida, uma notícia importante, digna de primeira página! É um acontecimento recente? Sim. Tem interesse? Eu diria que o interesse é bastante reduzido. Tem informação? Pouca, ou quase nenhuma.
- Num café de um dos bairros mais tradicionais de Lisboa houve, esta manhã, um incêndio. Não houve feridos, mas a situação esteve bastante complicada. Posso assegurar, porque testemunhei, que nenhuma televisão apareceu no local. A única personagem que se parecia com um jornalista era um fotógrafo, esse sim, esteve lá desde o início, e foi fotografando de vários ângulos o que se estava a passar. Muito tempo depois, lá apareceram duas jornalistas, que certamente eram da imprensa escrita, pois não se avistavam câmaras no local.
Perante estes dois casos, podemos perguntar-nos: qual deles é mais notícia? O que é que faz com que um acontecimento seja notícia? No caso do incêndio do café, não havia mortos nem feridos, por isso o interesse das televisões foi nulo. Mas se tivesse sido a casa de Moniz a incendiar-se, então, de certeza que não só apareceria nos directos de todos os telejornais, como faria manchetes nos jornais de amanhã. Este, se chegar sequer a aparecer, não vai ser com certeza na capa...
Isto dá que pensar... afinal, o que é uma notícia? Quais são os critérios para um acontecimento ascender à categoria de notícia? Quem decide o que é notícia e o que não é? Será que tem de haver um determinado número de mortos e de feridos, para que o acontecimento se torne interessante? Será que as pessoas em causa têm de ter um determinado nível de reconhecimento social? Ou, simplesmente, não há critérios, ou melhor, há os critérios desta lógica económica que impera nos meios de comunicação social, e que parece fazer com que cada vez mais o jornalismo seja feito daquilo que dá audiências, e vende jornais, e não dos verdadeiros acontecimentos?... Onde fica a verdadeira essência das notícias no meio disto tudo?...

23 março 2005

Os Jovens e as Notícias

Num estudo divulgado há pouco tempo, concluiu-se que os jovens portugueses, na sua maioria, dão pouca atenção às notícias. O mesmo é dizer que não vêm telejornais, não ouvem noticiários na rádio, e ler jornais ainda muito menos.
E isto não surpreende. Basta andarmos na rua, ou nos trasportes públicos, e observar a população jovem. Quantos têm um jornal na mão? Quantos lêem uma revista de qualidade, como por exemplo a Visão? Os dedos de uma mão seriam suficientes para os contar... E mais grave é ainda, quando em plena aula de um curso de Ciências da Comunicação, perante a pergunta "quem é que lê jornais?", a maioria confessa não ter esse hábito. É este o futuro do jornalismo?...
E qual será a desculpa?... Hoje, em plena era da globalização de tudo, incluindo da informação, em que proliferam os jornais gratuitos, quem pode ousar dizer que não se informa porque não pode? Não, hoje só não se informa quem não quer!
E não são só os jovens que não se informam. Mas é deles que falo hoje, não só porque é a eles que se refere o estudo, como acho que ninguém se pode constituir como pessoa se não estiver informado, e ainda porque, como jovem, me entristece esta falta de informação daqueles que serão os homens e mulheres de amanhã.
E o que fazer perante isto? O que fazer para aproximar as notícias dos jovens? É preciso, por um lado, que estes percebam a necessidade de estar informados. Mas não será que por parte desses tão grandes grupos económicos que há hoje no campo da comunicação social, poderia também haver iniciativas nesse sentido? Como por exemplo, à semelhança dos jornais gratuitos que já existem, fazer um que fosse mais direccionado para a camada jovem. Um jornal mais apelativo, com assuntos que interessam aos jovens, mas sem cair nas banalidades das revistas de adolescentes. A informação mostrada como algo que não tem de ser chato, como algo que também lhes diz respeito. E distribuir o jornal nos estabelecimentos de ensino, locais frequentados por jovens, etc.
Enfim, isto é só uma ideia, utópica talvez... mas como futura jornalista, preocupa-me realmente a forma como a informação passa ao lado dos mais jovens, e preocupa-me ainda mais verificar que muitos dos jornalistas de amanhã nem sequer conhecem verdadeiramente a informação. Simplesmente porque não se informam...

22 março 2005

O directo

Vou iniciar esta minha primeira viagem a este país encantado, falando do directo. O directo, esse verdadeiro "vício" da informação televisiva dos dias de hoje!...
Dizia há dias um professor meu, que hoje em dia vive-se uma verdadeira "cultura do directo" nas televisões. E que muitas vezes, esse directo resulta em muito pouca informação concreta. Não posso deixar de concordar, e mesmo o espectador mais desatento pode confirmar isso todos os dias nos nossos telejornais.
O directo, é, de certa forma, a maneira de as televisões dizerem: "nós estamos em cima do acontecimento, nós estamos lá, nós chegámos primeiro". O problema é que nem sempre isso se concretiza em informação para o telespectador, e pelo contrário dá origem a situações um tanto ou quanto absurdas, como estarmos a olhar para uma porta, à espera que saia uma personalidade importante, que teima em não sair!
No fim de contas, a verdade é que se fôssemos analisar os directos das nossas televisões, com certeza a maioria teria uma quantidade de informação mínima! O que acontece muitas vezes é estarmos a ouvir um jornalista a "encher pneus", que é como quem diz, a queimar tempo, ou então fazem-se aquelas perguntas completamente despropositadas, como o famoso caso da jornalista da TVI, que em plena noite eleitoral, pergunta ao recém-eleito primeiro-ministro como se sente!
Há, claramente, um exagero do recurso ao directo! E a questão é que isso dá ao público uma falsa sensação de informação. O directo, é importante sim, eu diria que em certas situações é mesmo essencial, mas, como tudo, deve ser usado com conta, peso e medida...