"If I ever allow genuine compassion to be overtaken by personal ambition, I will have sold my soul" - James Nachtwey

25 março 2005

A liberdade depende dos jornalistas?

A Revista Correio Tv, que sai às sextas-feiras com o Correio da Manhã traz hoje uma entrevista com Mário Crespo, em que este afirma que a liberdade depende muito dos jornalistas. Esta afirmação vem na sequência da pergunta: "Hoje faz-se jornalismo com liberdade em Portugal?".
Talvez valesse a pena reflectir sobre isto... será que a liberdade depende realmente muito dos jornalistas?... Segundo Mário Crespo, «Faz-se com a total liberdade que se quer ter e com as constrições que se quer ter. Se alguém se sente incomodado com alguma linha e deixa que isso afecte o seu trabalho, bom, isso é um problema da consciência da pessoa. Em Portugal, hoje, não há razões para se poder suspeitar que não há liberdade. Claro que há liberdade.». Pois é, aparentemente a questão estaria resolvida: um jornalista que não se sentisse confortável com a linha editorial do órgão de comunicação em que trabalha, simplesmente não faria o trabalho. Seria apenas um problema da consciência de cada um. Mas, infelizmente, sabe-se que na prática as coisas não funcionam assim. Perante a dificuldade em arranjar emprego, e a cada vez maior concentração dos órgãos de comunicação social, a situação não é tão simples. Porque, para além de um problema de consciência, os jornalistas vêm-se confrontados com o drama do desemprego. Será que isto é liberdade?...
O que parece haver é uma aparente liberdade, ou seja, os tempos do lápis azul da censura já lá vão, mas então e a auto-censura? Isso não é também uma restrição à liberdade? A diferença parece ser que, se anteriormente essa censura era feita com base em factores políticos, agora é feita por razões que podemos talvez chamar de económicas, financeiras, de sobrevivência, no fim de contas, porque os jornalistas precisam do seu salário, por muito reduzido que seja (e muitas vezes é...).
Voltemos então à afirmação de Mário Crespo. A liberdade depende muito dos jornalistas? Claro que sim. O problema é que não depende SÓ dos jornalistas...

1 comentário:

Anónimo disse...

É uma situação irónica: foi elaborada uma legislação tão zelosa dos direitos dos jornalistas, na qual está consagrada a cláusula de consciência e outras leis afins, cuja intenção é conceder liberdade aos jornalistas... mas na prática isto não serve de muito.
Talvez seja mais fácil para jornalitas de um certo renome, como o Mário Crespo, falar destas questões de uma forma tão idealizada, como se tudo fosse assim tão simples. Esquece-se dos "outros" jornalistas, sobretudo daqueles que - tal como nós - daqui a uns anos estarão a dar os primeiros passos na profissão. Será que nós, profissionais quase anónimas, nos podermos dar ao luxo de alegar cláusula de consciência?

Isleen