"If I ever allow genuine compassion to be overtaken by personal ambition, I will have sold my soul" - James Nachtwey

24 março 2005

Ser ou Não Ser Notícia: Eis a Questão

Um dos conceitos com que um jornalista tem de lidar todos os dias, é, obviamente, o conceito de "notícia". Mas podemos perguntar-nos o que é, afinal, uma notícia.
Num dicionário da Língua Portuguesa, "notícia" vem definida como: «Relatório ou informação sobre um acontecimento recente; aquilo que se ouve pela primeira vez; assunto de interesse, matéria adequada para jornais e noticiários de rádio e/ou televisão; conhecimento; informação; noção; nota; observação; apontamento; resumo (...)». Como podemos ver, a definição é bastante extensa. Mas resumindo, uma notícia deve ser: um acontecimento recente, um assunto de interesse, e deve ter informação.
Vejamos agora dois casos distintos:
- Na primeira página do Correio da Manhã de hoje vem, em lugar de destaque, uma fotografia que ocupa um espaço considerável, e na qual se podem ver Manuela Moura Guedes e José Eduardo Moniz, com o seguinte título: «MONIZ fala em directo durante operação». Sem dúvida, uma notícia importante, digna de primeira página! É um acontecimento recente? Sim. Tem interesse? Eu diria que o interesse é bastante reduzido. Tem informação? Pouca, ou quase nenhuma.
- Num café de um dos bairros mais tradicionais de Lisboa houve, esta manhã, um incêndio. Não houve feridos, mas a situação esteve bastante complicada. Posso assegurar, porque testemunhei, que nenhuma televisão apareceu no local. A única personagem que se parecia com um jornalista era um fotógrafo, esse sim, esteve lá desde o início, e foi fotografando de vários ângulos o que se estava a passar. Muito tempo depois, lá apareceram duas jornalistas, que certamente eram da imprensa escrita, pois não se avistavam câmaras no local.
Perante estes dois casos, podemos perguntar-nos: qual deles é mais notícia? O que é que faz com que um acontecimento seja notícia? No caso do incêndio do café, não havia mortos nem feridos, por isso o interesse das televisões foi nulo. Mas se tivesse sido a casa de Moniz a incendiar-se, então, de certeza que não só apareceria nos directos de todos os telejornais, como faria manchetes nos jornais de amanhã. Este, se chegar sequer a aparecer, não vai ser com certeza na capa...
Isto dá que pensar... afinal, o que é uma notícia? Quais são os critérios para um acontecimento ascender à categoria de notícia? Quem decide o que é notícia e o que não é? Será que tem de haver um determinado número de mortos e de feridos, para que o acontecimento se torne interessante? Será que as pessoas em causa têm de ter um determinado nível de reconhecimento social? Ou, simplesmente, não há critérios, ou melhor, há os critérios desta lógica económica que impera nos meios de comunicação social, e que parece fazer com que cada vez mais o jornalismo seja feito daquilo que dá audiências, e vende jornais, e não dos verdadeiros acontecimentos?... Onde fica a verdadeira essência das notícias no meio disto tudo?...

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